Os filmes eróticos mais perenes e marcantes
são, em geral, aqueles que souberam trabalhar os tabus arraigados da sociedade.
Isso se deve porque talvez (por razões óbvias) o gênero se permite uma
constante quebra no padrão do politicamente incorreto.
Mas esse é um comentário raso diante da audácia
presente no trabalho mais popular do polonês Walerian Borowczyk, o
inacreditável “La Bête”.
Bestialismo, um sem fim de pequenas perversões,
produção caprichada e uma trama espantosamente bem elaborada compõem este filme
erótico, de uma estirpe da qual raramente se vê produzida nos tempos de hoje.
O avô de Mathurin expressa
sua indignação para com a indiferença do neto em providenciar logo uma noiva,
ao invés do interesse obsessivo que demonstra em caçar e cuidar dos animais da
fazenda. Para tanto, ele arranja um casamento negociado e não tarda a receber a
visita da bela noiva (Lisbeth Hummel) acompanhada de uma espécie de governanta.
A jovem toma contato com uma história que cerca as tradições da família de
Mathurin –e que o avô dele parece querer omitir dos outros a todo o custo:
Trata-se de uma relação inusitada e carnal, ocorrida entre uma jovem ancestral
da família e um ser animalesco (parecido com um urso) que rondava a floresta.
Há, contudo, pouquíssima atmosfera de filme de terror no trabalho do diretor
polonês Walerian Borowczyk. Em lugar disso, ele entrega lubricidade,
sexualidade, e uma necessidade pulsante e indiscreta em todos os personagens
(ou, pelo menos, a maioria deles) em saciar seus irreprimíveis instintos
sexuais. O diretor é um questionador, com pulsões muito específicas de como a
liberdade plena de expressão e atuação pode alcançar resultados incomuns a
partir de seu exercício, e amparado nessa postura, ele cria um filme erótico de
inesperada ressonância moral: Embora seu registro incentive e simpatize com os
atos que contradizem a conduta imposta, não falta nunca a sua narrativa a
perfeita noção de que todos os desvios tidos como anormais têm um preço a se
pagar. Em nível existencial, inclusive.
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