sábado, 7 de janeiro de 2017

O Último Rei da Escócia

Vindo de uma premiada carreira como documentarista, era natural que quando estreasse no terreno da ficção, o diretor Kevin MacDonald se concentrasse numa figura verídica.
Idi Amin é um daqueles personagens tão espantosos, que chega a ser inacreditável que seja real, e na atuação poderosa de Forest Whitaker, ele ganha uma personificação cheia de carisma, de fôlego e de minúcia, plenamente capaz de fazer jus ao exuberante personagem retratado.
Mas (apesar de Whitaker ter conquistado, com ele, o Oscar de Melhor Ator, em 2006), Idi Amin não é exatamente o protagonista de “O Último Rei da Escócia”. Esse papel cabe, na verdade ao médico escocês Michael Carrigan, vivido por James McAvoy –seria de fato desequilibrado ao ritmo e ao tom do filme introduzir já de imediato para o expectador um vulcão cênico como o Idi Amin personificado por Whitaker.
São os anos 1970. Recém-formado em medicina, e oprimido pela pressão paterna em obter pronto reconhecimento, o jovem escocês Carrigan decide partir para Uganda, na África, onde seus conhecimentos poderão servir às mazelas da população pobre, e onde a experiência proporcionará a aventura que ele busca.
Todavia, o destino leva Carrigan a cair nas graças do homem que recentemente tomou o posto de presidente do país, o general Idi Amin, e dele tornar-se médico particular.
O quê Carrigan não esperava, contudo, é que, ao longo de sua convivência, Amin vai revelando uma personalidade assustadora, sádica, imprevisível e psicopata, o que coloca seguidamente sua vida em risco. Não ajuda em nada o fato de Carrigan se envolver em um caso com uma das esposas dele (a linda Kerry Washington).
Ainda que seguramente magistral em sua direção magnífica, que resgata o máximo possível de autenticidade no seu registro de época, lugar e circunstância (bastante indicativo da formação de documentarista de MacDonald), sua grande atração é mesmo a interpretação espetacular de Forest Whitaker, em perfeita sintonia com a bem calibrada presença de McAvoy, mas definitivamente engolindo quase todo o filme: Não apenas Whitaker impressiona em seus rompantes furiosos de carisma e selvageria, como também a revelação para o público de sua faceta mais perturbadora e sombria (que atinge momentos terrivelmente inacreditáveis no último terço do filme) se dá por meio de uma condução brilhante de sutileza e auto-controle, fruto certamente da ampla experiência e do indiscutível talento de seu intérprete.

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