Vindo de uma premiada carreira como documentarista,
era natural que quando estreasse no terreno da ficção, o diretor Kevin MacDonald
se concentrasse numa figura verídica.
Idi Amin é um daqueles personagens tão
espantosos, que chega a ser inacreditável que seja real, e na atuação poderosa
de Forest Whitaker, ele ganha uma personificação cheia de carisma, de fôlego e
de minúcia, plenamente capaz de fazer jus ao exuberante personagem retratado.
Mas (apesar de Whitaker ter conquistado, com
ele, o Oscar de Melhor Ator, em 2006), Idi Amin não é exatamente o protagonista
de “O Último Rei da Escócia”. Esse papel cabe, na verdade ao médico escocês
Michael Carrigan, vivido por James McAvoy –seria de fato desequilibrado ao
ritmo e ao tom do filme introduzir já de imediato para o expectador um vulcão cênico
como o Idi Amin personificado por Whitaker.
São os anos 1970. Recém-formado em medicina, e
oprimido pela pressão paterna em obter pronto reconhecimento, o jovem escocês
Carrigan decide partir para Uganda, na África, onde seus conhecimentos poderão
servir às mazelas da população pobre, e onde a experiência proporcionará a
aventura que ele busca.
Todavia, o destino leva Carrigan a cair nas
graças do homem que recentemente tomou o posto de presidente do país, o general
Idi Amin, e dele tornar-se médico particular.
O quê Carrigan não esperava, contudo, é que, ao
longo de sua convivência, Amin vai revelando uma personalidade assustadora, sádica,
imprevisível e psicopata, o que coloca seguidamente sua vida em risco. Não
ajuda em nada o fato de Carrigan se envolver em um caso com uma das esposas
dele (a linda Kerry Washington).
Ainda que seguramente
magistral em sua direção magnífica, que resgata o máximo possível de
autenticidade no seu registro de época, lugar e circunstância (bastante
indicativo da formação de documentarista de MacDonald), sua grande atração é
mesmo a interpretação espetacular de Forest Whitaker, em perfeita sintonia com
a bem calibrada presença de McAvoy, mas definitivamente engolindo quase todo o
filme: Não apenas Whitaker impressiona em seus rompantes furiosos de carisma e
selvageria, como também a revelação para o público de sua faceta mais
perturbadora e sombria (que atinge momentos terrivelmente inacreditáveis no último
terço do filme) se dá por meio de uma condução brilhante de sutileza e
auto-controle, fruto certamente da ampla experiência e do indiscutível talento
de seu intérprete.
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