Um novo filme de Gregg Araki depois do
satisfatório “Pássaro Branco Na Nevasca”, e mais uma vez, uma nova forma de
transgressão.
A visão que Araki tem, enquanto diretor de
cinema, de como a ousadia deve se expressar na tela, não corresponde ao que
outros profissionais do choque costumam fazer. Araki vai na contramão de obras
transgressivas feitas para chocar mostrando a repugnância do mundo e enfeita a
realidade (há uma preocupação particular na manutenção da beleza de seu elenco
jovem), inclusive suas obras não raro vêem pontuadas de elementos fantásticos
empregados de modo desconcertante, como alienígenas.
Aqui, até onde fica possível apurar, seu tema
central parece ser o fim do mundo –também uma idéia que persegue Araki, e para
a qual fez até uma trilogia de filmes! –mas, em torno desse tema, ele discorre
por caminhos sinuosos, desvia-se do foco, cria mentiras e enganações que
parecem levar o filme a outro gênero e faz de seu objetivo final um trabalho
incategorizável, incompreensível e, talvez, indecifrável.
Seu protagonista, Smith, é um rapaz bissexual
que estuda numa universidade. Tem sonhos eróticos com o colega de quarto, um
surfista bobalhão. Tem como melhor amiga uma estudante de arte lésbica (Haley
Bennet, sensacional). E sua mãe (Kelly Lynch, de alguns filmes dos anos 1980, e
ainda muito bonita) é uma perua milionária que lhe esconde as reais circunstâncias
do acidente no qual perdeu o pai.
Esses personagens aparecem, todos, num sonho
recorrente onde ele vê um futuro iminente (possivelmente próximo da data em que
completará 19 anos) quando uma tragédia parece então acontecer.
De alguma forma, Smith relaciona isso aos presságios
de um esquisito messias –que anuncia o fim dos tempos –e ao misterioso
desaparecimento de uma mulher ruiva desconhecida, quando Smith avistou um grupo
estranho e ameaçador usando máscaras de animais.
Aliada nessa “investigação” está uma jovem
ninfomaníaca (Juno Temple, deveras deliciosa) com quem ele se envolveu numa
festa –e a respeito de quem haverá uma estarrecedora revelação no desfecho.
Se a história já não fosse bastante desigual e
repleta de absurdo, Araki ainda lhe dá uma roupagem imprevista, com cenas de
sexo despudoradas tratadas com ironia e deboche constante, além de uma opção
visual que lhe enfatiza a superficialidade e a pouca vontade da narrativa em se
fazer realista. Essas opções estéticas do diretor moldam uma experiência que,
tenho certeza, deve ter testado a paciência de muitos públicos.
É bastante característica de Gregg Araki essa
intenção de desestabilizar o expectador por meio deste conto definido por uma
natureza inesperada.
Seu final, tão inacreditável e gaiato quanto
desconcertante, é uma prova do quão longe ele está disposto a ir.
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