sábado, 25 de fevereiro de 2017

Kaboom

Um novo filme de Gregg Araki depois do satisfatório “Pássaro Branco Na Nevasca”, e mais uma vez, uma nova forma de transgressão.
A visão que Araki tem, enquanto diretor de cinema, de como a ousadia deve se expressar na tela, não corresponde ao que outros profissionais do choque costumam fazer. Araki vai na contramão de obras transgressivas feitas para chocar mostrando a repugnância do mundo e enfeita a realidade (há uma preocupação particular na manutenção da beleza de seu elenco jovem), inclusive suas obras não raro vêem pontuadas de elementos fantásticos empregados de modo desconcertante, como alienígenas.
Aqui, até onde fica possível apurar, seu tema central parece ser o fim do mundo –também uma idéia que persegue Araki, e para a qual fez até uma trilogia de filmes! –mas, em torno desse tema, ele discorre por caminhos sinuosos, desvia-se do foco, cria mentiras e enganações que parecem levar o filme a outro gênero e faz de seu objetivo final um trabalho incategorizável, incompreensível e, talvez, indecifrável.
Seu protagonista, Smith, é um rapaz bissexual que estuda numa universidade. Tem sonhos eróticos com o colega de quarto, um surfista bobalhão. Tem como melhor amiga uma estudante de arte lésbica (Haley Bennet, sensacional). E sua mãe (Kelly Lynch, de alguns filmes dos anos 1980, e ainda muito bonita) é uma perua milionária que lhe esconde as reais circunstâncias do acidente no qual perdeu o pai.
Esses personagens aparecem, todos, num sonho recorrente onde ele vê um futuro iminente (possivelmente próximo da data em que completará 19 anos) quando uma tragédia parece então acontecer.
De alguma forma, Smith relaciona isso aos presságios de um esquisito messias –que anuncia o fim dos tempos –e ao misterioso desaparecimento de uma mulher ruiva desconhecida, quando Smith avistou um grupo estranho e ameaçador usando máscaras de animais.
Aliada nessa “investigação” está uma jovem ninfomaníaca (Juno Temple, deveras deliciosa) com quem ele se envolveu numa festa –e a respeito de quem haverá uma estarrecedora revelação no desfecho.
Se a história já não fosse bastante desigual e repleta de absurdo, Araki ainda lhe dá uma roupagem imprevista, com cenas de sexo despudoradas tratadas com ironia e deboche constante, além de uma opção visual que lhe enfatiza a superficialidade e a pouca vontade da narrativa em se fazer realista. Essas opções estéticas do diretor moldam uma experiência que, tenho certeza, deve ter testado a paciência de muitos públicos.
É bastante característica de Gregg Araki essa intenção de desestabilizar o expectador por meio deste conto definido por uma natureza inesperada.

Seu final, tão inacreditável e gaiato quanto desconcertante, é uma prova do quão longe ele está disposto a ir.

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