As circunstâncias que cercam este filme dizem
muito a respeito do quão complicada pode ser a relação entre uma obra de
cultura pop e seu público-alvo (tão mais complicada quando esse público se
mostra protecionista em relação aos personagens, e rabugento diante de opções
plausíveis de roteiro).
O primeiro filme desta agora trilogia, “O Diário
de Bridget Jones”, dirigido por Sharon Maguire, adaptado do romance de Helen
Fielding (por sua vez, nítida e declaradamente inspirado na obra “Emma”, de
Jane Austen) e lançado em 2001, foi um sucesso em inúmeras instâncias. Talvez,
a melhor comédia romântica feita até hoje, acompanhava a dura, constrangedora e
tumultuada rotina da moça inglesa Bridget Jones, às voltas com toda a sorte de
problemas da mulher moderna: As brigas com a balança; a competitividade
profissional; os dilemas entre a vida amorosa e a disponibilidade de ser
solteira; as cobranças dos familiares.
Tudo isso servia de palco para a interpretação
brilhantemente modulada e rica em timing que a texana Renée Zellweger entregou,
mostrando-se mais que perfeita para o papel.
A continuação veio alguns anos depois,
adaptando também a continuação literária: “Bridget Jones-No Limite da Razão”,
dirigido desta vez por Beeban Kidron, era menos memorável, menos divertido,
mais rasteiro, porém ainda satisfatório.
Algum tempo se passou com os fãs (ou melhor, as
fãs!) aguardando ansiosamente um terceiro capítulo (visto que, hoje em dia,
tudo vira trilogia) e, alguns anos atrás, a escritora enfim lançou o terceiro
livro, “Bridget Jones-Louca Pelo Garoto”... com resultados catastróficos!!!
As fãs, apaixonadas pela personagem de Bridget
Jones e, sobretudo, pela sua cara metade nos dois capítulos anteriores, o nobre
e taciturno Sr. Darcy (que nos filmes foi vivido brilhantemente por Colin
Firth), ficaram revoltadas com o terceiro livro onde Bridget é uma viúva
(leia-se, Darcy morre!) e acaba tendo que encarar uma nova forma de rotina e
competitividade trabalhista (lembrem-se, uma década se passou!), além de, é
claro, retomar a antiga e complicada vida afetiva de mulher solteira –e assim
ela conhece um rapaz mais jovem com quem inicia um relutante romance.
Tamanha foi a intensidade dessa revolta para
com os rumos radicais tomados por esse livro que o estúdio da Universal (em
parceria com a Working Title, produtora inglesa) decidiu não adaptá-lo ao
realizar este terceiro filme.
Prova disso –e do esmero em resgatar o máximo
de elementos do filme original –é que foi chamada a mesma diretora, Sharon
Maguire que providenciou para que a ambientação, o tom, e a estrutura narrativa
se mantivessem familiares aos fãs. A própria autora, Helen Fielding foi chamada
para elaborar uma nova trama, condizente com as expectativas confortáveis do público,
e pode-se dizer que, nesse irônico sentido, eles não decepcionaram: “O Bebê de
Bridget Jones” preserva as características graciosas da personagem e embora não
seja melhor do que o excelente filme de 2001 (que, diga-se, deu uma indicação
ao Oscar de Melhor Atriz à sensacional Renée Zellweger), é bastante superior à
sua continuação.
Agora, acompanhamos a sempre avoada Bridget
Jones prestes a completar 43 anos, o quê apesar da estabilidade que obteve,
ainda serve de pretexto para as cobranças de sua mãe (Gemma Jones). Já faz
alguns anos que, sem maiores explicações, ela separou-se de Mark Darcy, ainda
que eles sempre se encontrem em algumas ocasiões.
As complicações da vida de Bridget começam quando
ela –em sua turbulenta tentativa de se manter romanticamente ativa –dorme com
um desconhecido, Jack (Patrick Dempsey, cujo personagem toma o lugar de Hugh
Grant que não voltou para esta continuação) e, poucos dias depois, tem uma recaída
com o próprio Darcy. Para descobrir então que engravidou!
Agora, sem ter idéia de quem exatamente seja o
pai, a normalmente atrapalhada Bridget deve lidar com a delicada situação (como
e quando contar para eles?!), além do fato complicado por si só de estar
prestes a se tornar mãe –sua obstetra, só para constar, é interpretada de forma
hilariante pela sempre fantástica Emma Thompson.
Engraçado, vibrante e cheio de simpatia, é um
filme bem sucedido em resgatar aquela sensação bastante prazerosa que “O Diário
de Bridget Jones” já trazia.
E essa, pode ter certeza,
era a intenção dos envolvidos!
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