Aclamado na China, o diretor Hou Hsiao-Hsien
teve poucos de seus trabalhos lançados no Brasil (alguns raros casos foram os
elogiadíssimos “O Mestre das Marionetes” e “A Cidade da Tristeza”), o que
impede o grande público de conhecer mais a fundo a obra deste celebrado
realizador –muitos de seus trabalhos nas últimas décadas contaram (tal e qual
este filme) com a presença da bela e versátil atriz Shu Qi, também ela uma
atriz que teve poucos filmes verdadeiramente relevantes lançados por aqui,
restando apenas alguns trabalhos bastante comerciais.
O lançamento de “A Assassina” é então um motivo
de comemoração pela oportunidade rara de acesso à uma obra de Hou Hsia-Hsien
através das mídias oficiais que isso proporciona.
Antiguidade. China. Criada e treinada para ser
a mais exímia das assassinas por uma instrutora em artes marciais, uma jovem é
confrontada com uma missão cheia de obstáculos pessoais: Voltar para sua
terra-natal onde deve dar cabo de um príncipe, justamente o jovem a quem ela
foi prometida em sua infância, antes de ter sido levada, com 10 anos de idade,
para essa outra vida.
Relutante na concretização de sua incumbência –ainda
que sempre a ostentar uma expressão impassível –a jovem passa dias a espreitar
a rotina de seu suposto alvo. E acompanha, por vezes sob a condição de
expectadora, muitos de seus dramas cotidianos.
Matá-lo, significa encerrar definitivamente os
laços com o passado e provar-se uma assassina plena e completa.
Por outro lado, poupá-lo –e deixar de matar
assim o homem que amou –significa romper com a brutal transparência de sua
casta de assassinos, deixando de ser um deles e assumindo sua própria
identidade.
Mais do que uma profusão de cenas de artes
marciais –o que se daria em um filme normal –o diretor Hou Hsia-Hsien promove
uma investigação íntima na alma de sua protagonista, e ocasionalmente, em seus
coadjuvantes, cujas presenças vão ganhando inusitada importância a medida que a
narrativa avança de maneira tão lenta quanto desafiadora: Hou Hsia-Hsien não é
um diretor adepto de redundâncias. Seus trabalhos, intrinsecamente artísticos,
valorizam os planos compostos por um primor desigual, e enfatizam as sutilezas
captadas nas interpretações de baixo tom, que se somam à uma trama nebulosa,
repleta de lacunas que o expectador deve preencher em seus próprios termos.
Dito isto, este pode ser um filme bastante
frustrante ao expectador de gosto muito comercial: Sua beleza está na
possibilidade poética que surge a partir do registro sem convenções de um sem
fim de fragmentos dramáticos, históricos, políticos e pessoais que contribuem
para a trama, mas não a integram de fato; este serviço, se interessar, Hou
Hsia-Hsien reserva ao próprio público.
O que resta de fato em “A
Assassina” é seu fio condutor, a história de uma mulher (vivida com uma excelência
inquestionável por Shu Qi) que, em meio à tempestade de condutas e escolhas
morais que se forma em sua vida, deve perseverar na busca por si mesma.
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