O roteirista e diretor Shane Black (de “Beijos
e Tiros” e “Homem de Ferro 3”) é fascinado por tramas rocambolescas, nada mais
natural que investir num filme com ares detetivescos. E se ele vem acrescido de
uma ambientação estilosa e sedutora como os anos 1970, tanto melhor.
Dito isso, há muitos elementos irresistíveis em
“Dois Caras Legais”, a começar pela ótima dupla de protagonistas, os detetives
particulares de diferentes índoles interpretados por Ryan Gosling (hilário) e
Russel Crowe (ótimo como sempre). O primeiro tem lá seus princípios, mas eles
batem de frente com o fato de que, no ramo competitivo em que está, sua má
sorte pode, e deve, levá-lo à praticar atitudes questionáveis. O segundo, em
sua truculência, está mais para leão-de-chácara do que para investigador, e
isso se reflete na natureza dos casos que constantemente recebe.
Quando o personagem de Gosling é contratado
para achar o misterioso paradeiro de uma garota chamada Amélia, e o de Crowe é
incumbido de descobrir o quê se passou com uma atriz pornô conhecida como Misty
Mountain, a trajetória dos dois colide e, aos trancos e barrancos, eles
percebem que têm de se unir para elucidar um mistério que poderá esclarecer
ambos os casos.
Curioso lembrar que Shane Black foi também o
criador do conceito da série “Máquina Mortífera”, e realmente a exploração da dicotomia
entre parcerias disfuncionais é uma constante em seus filmes, tão mais
prazerosa quando se tem dois atores fantásticos como Golsing e Crowe. O filme
de Black, no entanto, reserva outras maravilhas ao público: Por exemplo, a
aparição de Kim Basinger, que se reencontra em cena, com Crowe, vinte anos
depois de terem protagonizado o
primoroso “Los Angeles-Cidade Proibida” (uma homenagem, talvez?). E o quê dizer
da jovem Angourine Rice, no papel da filha adolescente de Gosling, e que rouba
praticamente todas as cenas em que aparece?
Compartilhando a ambientação
e certa similaridade conceitual com um filme lançado em 2015, o bem mais
autoral e denso “Vício Inerente”, de Paul Thomas Anderson, este divertido,
acelerado e inquieto “Dois Caras Legais” se sobressai em meios às obras
comerciais como a pequena gema que é.
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