A mais desigual das mesclas acaba sendo este
insólito e formidável trabalho do diretor Robin Hardy: Nele há sensualidade (e
nudez constante), um registro bastante interessante das crenças pagãs, uma
relativamente satisfatória trama de suspense inserida nesse contexto inusitado,
e uma curiosa condução, na qual a direção não se furta de evidenciar o humor, o
ridículo e o absurdo dos momentos que se prestam à essas características.
Um policial britânico, metódico e rígido
(Edward Woodward) chega de avião à uma ilha afastada, onde deve investigar o
desaparecimento de uma jovem. Suas investigações esbarram nos estranhos hábitos
da comunidade, devota dos ancestrais costumes pagãos europeus e, por
conseguinte, acaba contrastando com o comportamento avesso do próprio policial,
um cristão declarado e confesso.
Não lhe passa despercebido uma sucessão de
atitudes consideravelmente suspeitas da parte de todo o povoado, na maneira com
que parecem, fantasmagoricamente, acompanhar com os olhos seus passos pela rua,
e mesmo nas práticas de natureza social, que soam esquisitas a outros padrões
culturais: Com destaque para um desconcertante momento musical (!) onde uma
jovem nua (a linda Britt Ekland, mais conhecida por ser casada, durante algum
tempo, com o astro Peter Sellers) se oferece ao policial na porta de seu quarto
à noite, a fim de interromper seu celibato.
Nada disso impede o líder dessa comunidade
(interpretado com ironia ferrenha por Christopher Lee) de nutrir pelo policial
alguma camaradagem, ainda que no fim –leia-se, na surpresa aterradora que a ele
é reservado no desfecho –isso não venha a poupá-lo de seu terrível propósito.
Aí está, então, a justificativa para esse
estilo tão absolutamente fora do tom (ou pelo menos, fora da idéia que se tem
de habitual ao gênero) adotado pelo diretor Hardy: Valer-se de extraordinária
desenvoltura e experiência, e evitar a controvérsia numa trama que, em mãos
menos hábeis, poderia ser interpretada como uma crítica.
A sociedade pagã que segue as leis da natureza,
e as reverencia, não é tratada como sendo o grupo de vilões do filme, nem
tampouco o policial é um protagonista heróico com o qual a platéia se
identifica –muito do que se percebe nele é uma caricatura patética daquele tipo
de personagem (recorrente em filmes de terror) que insiste em cair numa cilada,
mesmo quando ela se acha perceptível à olhos vistos em sua frente.
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