sábado, 11 de março de 2017

Pergunte Ao Pó

Essencialmente falho, como costuma ocorrer à adaptações de obras literárias imprescindíveis, este projeto foi um sonho cultivado durante muito tempo pelo lendário roteirista Robert Towne (de “Chinatown”) que o viu realizado graças ao seu grande amigo e astro Tom Cruise que produziu e financiou esta sua incursão na direção.
É a Los Angeles dos anos 1930. O cronista Arturo Bandini (o dedicado Colin Farrell) instala-se num hotel de quinta categoria onde seu plano é ficar recluso a fim de produzir as obras que almeja. Assolado por dúvidas, questionamentos, humores variados e os fantasmas da criação de sempre, ele busca respiro na taverna local onde, aos poucos, estabelece uma relação conflituosa com a garçonete mexicana Camila (a tentadora Salma Hayek), que sempre lhe serve de maneira tão implicante quanto relutante.
Outras figuras perdidas e desamparadas marcam ocasional presença na vida de Arturo, como o vizinho de quarto (Donald Sutherland) que toda hora lhe pede dinheiro emprestado e tem sempre uma história insólita para contar, ou a jovem burguesa (Idina Menzel) brutalmente carente que foi rejeitada pelo marido devido às cicatrizes que tem no corpo por causa da caxumba.
Ainda assim, é na relação com Camila que a narrativa se concentra, revelando ser esta, no final das contas, uma história de amor, com todos os encontros e desencontros, e a cuidadosa construção de um complicado relacionamento tecido por emoções dilacerantes a que se tem direito.
É justamente nesse elemento que a direção de Towne revela suas fragilidades: Incapaz de organizar e administrar as facetas ricas da relação na forma como é mostrada no famoso livro de John Fante, o diretor se descobre ineficaz ao expressar o flerte, a melancolia, a graça e a dissimulação que compõem o fascínio da obra literária, por mais que Salma e Farrell sejam atores bastante capazes.

A atmosfera de lasciva decadência acaba se tornando então vazia, e o trabalho de Towne se perde em momentos dispersos, migalhas do grande filme que poderia ter sido.

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