sexta-feira, 10 de março de 2017

Coração Satânico

A lista dos filmes genuinamente assustadores do gênero terror é limitada. Quando perguntamos a alguém quais os mais assustadores filmes de todos os tempos, os títulos tendem a ser os mesmos: “O Exorcista”, “O Iluminado”, talvez “O Bebê de Rosemary” se a pessoa tiver boa memória, talvez “A Profecia”, conforme o gosto pessoal.
Alguns de paladar mais específicos irão lembrar de filmes mais cults e obscuros, como “Evil Dead” ou “Hellraiser”. É curioso que, dentre todos esses filmes, seja pouco lembrado sensacional e francamente amedrontador “Coração Satânico”.
Uma prova de que o diretor Alan Parker foi capaz de passear por inúmeros gêneros, e dentro deles, urgir obras sempre pertinentes –ainda que, hoje em dia, ele não entregue nada relevante a algum tempo.
O filme acompanha a via-crusis de um detetive, Harry Angel, interpretado por Mickey Rourke, então no auge do sucesso que seu talento e boa pinta lhe proporcionou nos anos 1980. Ele recebe um caso no qual tem de encontrar o paradeiro de um certo Johnny Favorite, um ex-combatente da guerra que simplesmente evaporou.
Seu cliente é alguém ardiloso e cheio de segundas intenções, Louis Cypher (personificado com prontidão maligna por Robert De Niro) por meio de quem, dependendo da atenção do expectador, é até possível antecipar a grande revelação-surpresa da trama.
Mas, não o seu impacto.
Isso porque a investigação levada por Angel, e conduzida pela narrativa poderosa, esmagadoramente expressionista e inquietante de Alan Parker, tem até alguns elementos do film noir, mas se ampara quase que totalmente nas características do mais alarmante dos filmes de terror: A medida que vai descobrindo os passos do homem desaparecido, o detetive adentra um mundo perturbador de rituais macabros, seres sinistros e sombras preocupantes, enquanto novos crimes começam a se suceder, e ele é confrontado com visões enigmáticas que aos poucos vão revelando uma verdade horripilante.
Tudo culmina no terrível instante final do filme, quando as inúmeras pontas soltas do roteiro (e que aparentavam ser apenas isso, pontas soltas!) convergem numa solução das mais corajosas para um filme produzido pelo cinema norte-americano e o diretor Parker nos deixa com um último e memorável take, tão aterrorizante que dificilmente tal imagem sairá de nossa memória. 

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