A lista dos filmes genuinamente assustadores do
gênero terror é limitada. Quando perguntamos a alguém quais os mais
assustadores filmes de todos os tempos, os títulos tendem a ser os mesmos: “O
Exorcista”, “O Iluminado”, talvez “O Bebê de Rosemary” se a pessoa tiver boa
memória, talvez “A Profecia”, conforme o gosto pessoal.
Alguns de paladar mais específicos irão lembrar
de filmes mais cults e obscuros, como “Evil Dead” ou “Hellraiser”. É curioso
que, dentre todos esses filmes, seja pouco lembrado sensacional e francamente
amedrontador “Coração Satânico”.
Uma prova de que o diretor Alan Parker foi
capaz de passear por inúmeros gêneros, e dentro deles, urgir obras sempre
pertinentes –ainda que, hoje em dia, ele não entregue nada relevante a algum
tempo.
O filme acompanha a via-crusis de um detetive,
Harry Angel, interpretado por Mickey Rourke, então no auge do sucesso que seu
talento e boa pinta lhe proporcionou nos anos 1980. Ele recebe um caso no qual
tem de encontrar o paradeiro de um certo Johnny Favorite, um ex-combatente da
guerra que simplesmente evaporou.
Seu cliente é alguém ardiloso e cheio de
segundas intenções, Louis Cypher (personificado com prontidão maligna por
Robert De Niro) por meio de quem, dependendo da atenção do expectador, é até
possível antecipar a grande revelação-surpresa da trama.
Mas, não o seu impacto.
Isso porque a investigação levada por Angel, e
conduzida pela narrativa poderosa, esmagadoramente expressionista e inquietante
de Alan Parker, tem até alguns elementos do film noir, mas se ampara quase que
totalmente nas características do mais alarmante dos filmes de terror: A medida
que vai descobrindo os passos do homem desaparecido, o detetive adentra um
mundo perturbador de rituais macabros, seres sinistros e sombras preocupantes,
enquanto novos crimes começam a se suceder, e ele é confrontado com visões
enigmáticas que aos poucos vão revelando uma verdade horripilante.
Tudo culmina no terrível
instante final do filme, quando as inúmeras pontas soltas do roteiro (e que
aparentavam ser apenas isso, pontas soltas!) convergem numa solução das mais
corajosas para um filme produzido pelo cinema norte-americano e o diretor
Parker nos deixa com um último e memorável take, tão aterrorizante que
dificilmente tal imagem sairá de nossa memória.
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