quinta-feira, 9 de março de 2017

Queime Depois de Ler

Joel e Ethan Coen realizaram este filme logo na seqüência de sua obra-prima, “Onde Os Fracos Não Têm Vez”, talvez para tirar, o quanto antes, qualquer expectativa em torno de sua produção subseqüente e continuar fazendo os filmes pouco usuais que sempre fizeram.
Sob esse prisma, este trabalho surge assim como um esforço dos Coen em busca de si mesmos, e em busca do tipo de cinema sarcástico, enganosamente caricato, pontuado por um humor peculiar e um drama intrínseco que sempre os definiu.
Passa longe (e isso provavelmente é deliberado) de ter o vigor narrativo de seu trabalho anterior. No lugar disso, os Coen esmiúçam a comédia humana, na forma da existência de almas perplexas, mesquinhas e desesperadas que são muitos de seus personagens, e da propensão irreprimível que essa comédia tem em converter-se em tragédia.
Despedido do FBI por alcoolismo, ex-agente (John Malkovich) resolve escrever um livro de memórias que, supõe ele, será bombástico. Enquanto sua mulher adultera planeja o divórcio para viver com seu amante, um disquete com essas memórias extravia-se e vai parar numa academia de ginástica onde dois funcionários (uma mulher frustrada que quer dinheiro para uma série de cirurgias plásticas –Frances McDormand –e um personal trainer dos mais estabanados –Brad Pitt) fazem planos de devolvê-lo em troca de uma recompensa em dinheiro, mas o problema de comunicação entre as partes é tamanho que o ex-agente toma tudo como chantagem. Uma grande confusão inicia-se envolvendo esses personagens e mais alguns outros.
Nesta fusão de comédia de humor negro, suspense e drama perpetrada pelos Coen, eles mostram-se sempre afeitos a filmes de natureza muitas vezes incategorizável como este, o que resgata ligeiramente a memória de muitos dos seus trabalhos pregressos, como o áspero e ácido “Gosto de Sangue”, o cômico e irônico “Arizona Nunca Mais”, o desconcertante “Fargo” e o caricato e ridiculamente genial “O Grande Lebowski”.
Mais do que um grande filme, portanto, os Coen desejam aqui fazer um tratado minucioso e específico destinado ao seu público (se é que eles têm um) a respeito do tipo de filme que eles planejam fazer.
O tratamento por eles reservado aos personagens oscila com desenvoltura e imprevisibilidade entre o carinhoso e o perverso, e no objetivo de tornar tudo ainda mais peculiar eles dão à essas figuras rostos famosos de um elenco estelar (além dos já citados, aparecem também George Clooney, Richard Jenkins, J.K. Simmons e Tilda Swinton).

Nenhum comentário:

Postar um comentário