Joel e Ethan Coen realizaram este filme logo na
seqüência de sua obra-prima, “Onde Os Fracos Não Têm Vez”, talvez para tirar, o
quanto antes, qualquer expectativa em torno de sua produção subseqüente e
continuar fazendo os filmes pouco usuais que sempre fizeram.
Sob esse prisma, este trabalho surge assim como
um esforço dos Coen em busca de si mesmos, e em busca do tipo de cinema
sarcástico, enganosamente caricato, pontuado por um humor peculiar e um drama
intrínseco que sempre os definiu.
Passa longe (e isso provavelmente é deliberado)
de ter o vigor narrativo de seu trabalho anterior. No lugar disso, os Coen
esmiúçam a comédia humana, na forma da existência de almas perplexas,
mesquinhas e desesperadas que são muitos de seus personagens, e da propensão
irreprimível que essa comédia tem em converter-se em tragédia.
Despedido do FBI por alcoolismo, ex-agente
(John Malkovich) resolve escrever um livro de memórias que, supõe ele, será
bombástico. Enquanto sua mulher adultera planeja o divórcio para viver com seu
amante, um disquete com essas memórias extravia-se e vai parar numa academia de
ginástica onde dois funcionários (uma mulher frustrada que quer dinheiro para uma
série de cirurgias plásticas –Frances McDormand –e um personal trainer dos mais
estabanados –Brad Pitt) fazem planos de devolvê-lo em troca de uma recompensa
em dinheiro, mas o problema de comunicação entre as partes é tamanho que o
ex-agente toma tudo como chantagem. Uma grande confusão inicia-se envolvendo
esses personagens e mais alguns outros.
Nesta fusão de comédia de humor negro, suspense
e drama perpetrada pelos Coen, eles mostram-se sempre afeitos a filmes de
natureza muitas vezes incategorizável como este, o que resgata ligeiramente a
memória de muitos dos seus trabalhos pregressos, como o áspero e ácido “Gosto
de Sangue”, o cômico e irônico “Arizona Nunca Mais”, o desconcertante “Fargo” e
o caricato e ridiculamente genial “O Grande Lebowski”.
Mais do que um grande filme, portanto, os Coen
desejam aqui fazer um tratado minucioso e específico destinado ao seu público
(se é que eles têm um) a respeito do tipo de filme que eles planejam fazer.
O tratamento por eles
reservado aos personagens oscila com desenvoltura e imprevisibilidade entre o
carinhoso e o perverso, e no objetivo de tornar tudo ainda mais peculiar eles
dão à essas figuras rostos famosos de um elenco estelar (além dos já citados,
aparecem também George Clooney, Richard Jenkins, J.K. Simmons e Tilda Swinton).
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