terça-feira, 28 de março de 2017

Invasão Zumbi

Na circunstância mais habitual a que se prestam os filmes de mortos-vivos –ao menos, aqueles que valem a pena ser assistidos –os personagens se vêem numa elaborada situação-limite, onde as índoles se revelam e sentimentos como a mesquinharia, a covardia ou o egoísmo, antes camuflados pela civilidade, aparecem mostrando que os vilões de fato não são os mortos-vivos, mas com freqüência os próprios humanos conscientes.
Como os melhores exemplares desse subgênero (“Despertar dos Mortos” e sua refilmagem “Madrugada dos Mortos”, “A Volta dos Mortos-Vivos”, “Todo Mundo Quase Morto” e as três primeiras temporadas de “The Walking Dead”, entre outros), a produção sul-coreana “Invasão Zumbi” compreende por inteiro esse detalhe, e o aplica de forma primorosa em sua premissa acrescentando a intensidade e a inventividade narrativa que são característicos daquele cinema.
Um pai e sua filha pequena pegam um trem expresso para a cidade de Busan, a fim de levar a criança até a mãe: A relação com o pai, um ávido investidor empresarial focado em trabalho, não é das melhores.
Entretanto, uma das passageiras do trem entra já apresentando sintomas estranhos: Está trêmula, sangrando, e sofre convulsões. Logo, o novo estágio de sua infecção a transformará em uma zumbi (como, aliás, está acontecendo caoticamente com boa parte da população lá fora) com o trem já em movimento.
Aos não infectados restará o tormento de tentar sobreviver no espaço restrito e claustrofóbico do trem –incluindo aí o pai e sua filhinha (protagonistas da história) e mais alguns outros personagens que aparecerão –e escapar da horda cada vez maior de zumbis que ocupam vagão por vagão até que o expresso chegue, por fim, a Busan, aparentemente um lugar seguro.
Durante essa tensa e brilhantemente calibrada jornada, os personagens apresentarão as particularidades que definirão suas trajetórias: Antes negligente, o pai vai descobrir o quanto deseja ver sua filha sã e salva, e essa determinação o fará tomar a iniciativa que levará outros a conseguir sobreviver; já, os condutores do trem, acuados e inescrupulosos, tentarão evitar se expor ao perigo, nem que isso signifique deixar que inocentes morram –e com isso acabarão criando mais problemas do que resolvendo-os.
Uma vez mais, o extraordinário cinema exercido na Coréia do Sul vale-se de um expediente clássico para por em prática uma habilidade que lhes é tão inerente quanto contundente: Uma capacidade inata de expor as complexidades humanas, da mais vil à mais nobre, disposta em uma trama construída com inteligente minúcia e narrada com precioso senso de ritmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário