Na circunstância mais habitual a que se prestam
os filmes de mortos-vivos –ao menos, aqueles que valem a pena ser assistidos
–os personagens se vêem numa elaborada situação-limite, onde as índoles se
revelam e sentimentos como a mesquinharia, a covardia ou o egoísmo, antes
camuflados pela civilidade, aparecem mostrando que os vilões de fato não são os
mortos-vivos, mas com freqüência os próprios humanos conscientes.
Como os melhores exemplares desse subgênero
(“Despertar dos Mortos” e sua refilmagem “Madrugada dos Mortos”, “A Volta dos
Mortos-Vivos”, “Todo Mundo Quase Morto” e as três primeiras temporadas de “The
Walking Dead”, entre outros), a produção sul-coreana “Invasão Zumbi” compreende
por inteiro esse detalhe, e o aplica de forma primorosa em sua premissa
acrescentando a intensidade e a inventividade narrativa que são característicos
daquele cinema.
Um pai e sua filha pequena pegam um trem
expresso para a cidade de Busan, a fim de levar a criança até a mãe: A relação
com o pai, um ávido investidor empresarial focado em trabalho, não é das
melhores.
Entretanto, uma das passageiras do trem entra
já apresentando sintomas estranhos: Está trêmula, sangrando, e sofre
convulsões. Logo, o novo estágio de sua infecção a transformará em uma zumbi
(como, aliás, está acontecendo caoticamente com boa parte da população lá fora)
com o trem já em movimento.
Aos não infectados restará o tormento de tentar
sobreviver no espaço restrito e claustrofóbico do trem –incluindo aí o pai e
sua filhinha (protagonistas da história) e mais alguns outros personagens que
aparecerão –e escapar da horda cada vez maior de zumbis que ocupam vagão por
vagão até que o expresso chegue, por fim, a Busan, aparentemente um lugar
seguro.
Durante essa tensa e brilhantemente calibrada
jornada, os personagens apresentarão as particularidades que definirão suas
trajetórias: Antes negligente, o pai vai descobrir o quanto deseja ver sua
filha sã e salva, e essa determinação o fará tomar a iniciativa que levará
outros a conseguir sobreviver; já, os condutores do trem, acuados e
inescrupulosos, tentarão evitar se expor ao perigo, nem que isso signifique
deixar que inocentes morram –e com isso acabarão criando mais problemas do que
resolvendo-os.
Uma vez mais, o
extraordinário cinema exercido na Coréia do Sul vale-se de um expediente
clássico para por em prática uma habilidade que lhes é tão inerente quanto
contundente: Uma capacidade inata de expor as complexidades humanas, da mais
vil à mais nobre, disposta em uma trama construída com inteligente minúcia e
narrada com precioso senso de ritmo.
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