A fim de compensar a pouca atenção dada a
Ingmar Bergman neste espaço (e que me passou completamente despercebida) vou
entregar uma boa seqüência de obras do diretor sueco que (espera-se) oferecem
um panorama de sua mais que notável filmografia.
Mesmo comparado com outras de suas obras
superlativas, este “Persona”, o exercício sobre a multifacetação de identidade
perpetrada por Ingmar Bergman é, até hoje, um de seus mais desafiadores
trabalhos.
Muitos se debruçam, exclusivamente sobre seu
prólogo, genial, onde Bergman arremessa um turbilhão de imagens intrigantes e
de amplas co-relações sobre o expectador para então alterar bruscamente o ritmo
e iniciar o filme por assim dizer, no qual uma enfermeira e sua paciente (uma
atriz antes famosa e agora em decadência cujas mazelas psicológicas a levaram a
emudecer) se refugiam numa ilha bucólica onde passarão por um processo em que
suas índoles se misturarão, se confundirão, provocando um jogo estranho e
inesperado de submissão e controle.
A ilha em questão serviu de cenário para vários
filmes de Bergman, para onde ele próprio acabou indo morar. São indícios do
quanto o autor era afetado pelos desdobramentos íntimos de sua obra.
Parece ser bastante propício ao seu estilo, a
concepção de um conto onde duas mulheres de expõem, camada por camada, uma a
outra, até por fim flertarem com a possibilidade de emergirem suas
personalidades.
Os minutos finais contrapõe uma terceira
personalidade à essa equação metafísicas da alma: O menino (o mesmo visto em “O
Silêncio”, do mesmo Bergman, e que apareceu enigmaticamente na seqüência inicial
do filme) reaparece –seria ele o filho que a atriz perdeu ainda no útero? Ou
talvez, quem sabe a criança que a enfermeira abortou no episódio mencionado já
na ilha?
Difícil saber, até por que são amplas as
possibilidades.
Ao recusar uma moldura de
detalhes, artifícios cênicos, cenografia, geografia ou mesmo cor (o filme é em
preto e branco) o diretor não só preserva o foco sempre nas atrizes Bibi
Anderson e Liv Ullmann, e nas mais sutis alterações de suas performances –e elas
são, em sua maioria, dignas de nota –como também mantém uma névoa de reflexão a
cercar esses esboços de acontecimentos, com amplo espaço para o preenchimento
pessoal e filosófico.
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