domingo, 30 de abril de 2017

Baile Perfumado

Há um valor inquestionável nos filmes da Retomada: São obras essenciais para que se encontrasse uma voz no cinema nacional que (re) nascia, a partir de espasmos autorais que, conforme obtinham retorno de público e crítica, moldavam um novo cinema a ser realizado no Brasil.
Do ponto de vista exclusivamente de quem assiste, e quer basicamente um bom entretenimento, já a coisa pode não ser assim tão fácil. A maioria dos filmes daquele período carecia de uma boa produção, de uma equipe técnica capaz de assimilar traquejos narrativos mais elaborados –que o mesmo público podia conferir em filmes americanos que chegava no circuito –e, em geral, padeciam (e muitos, até hoje, ainda padecem) de um apelo popular identificável capaz de conquistar o expectador.
Dessa safra, “Baile Perfumado” é possivelmente um dos trabalhos mais venerados pela crítica. Ele fez sua parte mantendo acessa a chama da produção cinematográfica brasileira, ao mesmo tempo que tateou audaciosamente uma trama que representasse nossa cultura e nosso país tentando, na medida do possível, se consolidar como um produto comercial –essa último objetivo normalmente fracassado.
É a história de Benjamin Abrahão (o talentoso Duda Mamberti), negociante descendente de libaneses e criado pelo padre Cícero em pessoa (Jofre Soares, em rápida aparição) que, ao valer-se de uma máquina fotográfica e uma câmera filmadora –maravilhas tecnológicas da época –almejou filmar o temido líder cangaceiro Firgulino Ferreira, o Lampião (Luis Carlos Vasconcelos, ameaçador ainda que ligeiramente inadequado), e viu a realização de seu empreendimento, aos poucos, tornar-se um incontrolável tratado político.
Cheio de boas intenções, o filme de Paulo Caldas e Lírio Ferreira tem lá seus méritos e qualidades, mas sua narrativa se revela frouxa, amparada em cenas que terminam vazias de significado. Gradativamente, muitas dessas opções vão minando o filme, produzindo momentos enfadonhos que se somam com considerável prejuízo na segunda metade.
A despeito dessas fragilidades, “Baile Perfumado” cumpriu com louvor seu dever no panorama da Retomada: Pode-se enxergá-lo como o marco zero do vigoroso cinema pernambucano realizado hoje, uma das mais notáveis e vertentes facetas da nossa produção cinematográfica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário