Há um valor inquestionável nos filmes da
Retomada: São obras essenciais para que se encontrasse uma voz no cinema
nacional que (re) nascia, a partir de espasmos autorais que, conforme obtinham
retorno de público e crítica, moldavam um novo cinema a ser realizado no
Brasil.
Do ponto de vista exclusivamente de quem
assiste, e quer basicamente um bom entretenimento, já a coisa pode não ser
assim tão fácil. A maioria dos filmes daquele período carecia de uma boa
produção, de uma equipe técnica capaz de assimilar traquejos narrativos mais
elaborados –que o mesmo público podia conferir em filmes americanos que chegava
no circuito –e, em geral, padeciam (e muitos, até hoje, ainda padecem) de um
apelo popular identificável capaz de conquistar o expectador.
Dessa safra, “Baile Perfumado” é possivelmente
um dos trabalhos mais venerados pela crítica. Ele fez sua parte mantendo acessa
a chama da produção cinematográfica brasileira, ao mesmo tempo que tateou
audaciosamente uma trama que representasse nossa cultura e nosso país tentando,
na medida do possível, se consolidar como um produto comercial –essa último
objetivo normalmente fracassado.
É a história de Benjamin Abrahão (o talentoso
Duda Mamberti), negociante descendente de libaneses e criado pelo padre Cícero
em pessoa (Jofre Soares, em rápida aparição) que, ao valer-se de uma máquina
fotográfica e uma câmera filmadora –maravilhas tecnológicas da época –almejou
filmar o temido líder cangaceiro Firgulino Ferreira, o Lampião (Luis Carlos
Vasconcelos, ameaçador ainda que ligeiramente inadequado), e viu a realização
de seu empreendimento, aos poucos, tornar-se um incontrolável tratado político.
Cheio de boas intenções, o filme de Paulo
Caldas e Lírio Ferreira tem lá seus méritos e qualidades, mas sua narrativa se
revela frouxa, amparada em cenas que terminam vazias de significado.
Gradativamente, muitas dessas opções vão minando o filme, produzindo momentos
enfadonhos que se somam com considerável prejuízo na segunda metade.
A despeito dessas
fragilidades, “Baile Perfumado” cumpriu com louvor seu dever no panorama da
Retomada: Pode-se enxergá-lo como o marco zero do vigoroso cinema pernambucano
realizado hoje, uma das mais notáveis e vertentes facetas da nossa produção
cinematográfica.
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