Leva pouco, muito pouco tempo, para o belíssimo
filme de Ettore Scola conquistar o expectador: O momento específico em que isso
ocorre é certamente particular a cada um.
Para mim, esse instante é quando os personagens
assistem uma peça de teatro onde um recurso tão simples quanto emocionante faz
com que a cena “congele” no palco –todos os demais atores paralisam, enquanto
um dos personagens declama seus pensamentos. Pouco depois, Ettore usará, em seu
próprio filme essa encantadora manobra: Num restaurante comum, os atores todos
congelam, inclusive o terceiro membro à mesa, Antonio (Nino Manfredi,
simpaticíssimo), para que os outros dois personagens possam trocar uma
impressão que passou despercebida a todos os demais: Ele, Gianni (o sempre
sensacional Vittorio Gassman) e ela, Luciana (a bela Stefania Sandrelli)
trocaram olhares e já sabem que se apaixonaram, a despeito de ser o pobre e
bem-intencionado Antonio quem está enamorado dela.
É nessa verve de sarcasmo, humanismo e carinho
que o filme seguirá, pelas várias décadas em que sua trama acompanhará os
personagens desse triângulo amoroso que se conheceram durante o período de Resistência na Segunda
Guerra Mundial, e cujos encontros e desencontros irão levá-los, para lá e para
cá, numa ciranda de comédia e drama que poucos diretores souberam orquestrar
tão bem.
Luciana é uma aspirante à atriz –e como todas
sonha em ser estrela –por isso, paralelo à sua trajetória, o filme de Ettore
Scola ousa ser ainda mais sensacional e expõe a história do próprio cinema
italiano do pós-guerra: Numa de seus momentos mais inebriantes, a famosa cena
da Fontana di Trevi de “A Doce Vida” –assim como seus bastidores –é recriada,
inclusive contando com as presenças de Federico Fellini e Marcello Mastroianni
como eles mesmos.
Um filme de um fascínio
difícil de ser apreendido e complicado de ser verbalizado, mas obrigatório a qualquer apaixonado pelo cinema.
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