Eis um filme pleno em sua poesia. São lindas as
imagens que a câmera do diretor Michael Radford (da brilhante versão de “1984
de Orwell”) capta, ao registrar os caminhos por onde passa, esbaforido com sua
bicicleta, o carteiro de uma pequena ilha do Mediterrâneo, Mario (Massimo
Troisi, que morreu quando o filme ainda estava em pós-produção e ganhou assim
uma indicação póstuma ao Oscar de Melhor Ator) que, mais tarde, construirá com
o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret, de “Cinema Paradiso”), ali exilado, uma
transformadora amizade.
O ano é 1952, e Neruda sofre o afastamento
forçado de seu povo e sua pátria que ele defendia ideologicamente com tanto
fervor.
Em sua simplicidade, Mario se deixa fascinar
por essa paixão e Neruda se encanta dessa inocência e, a partir da influência
poderosa do famoso poeta, o tímido carteiro já arruma também coragem para
declamar a sua própria paixão pela bela Beatrice (Maria Grazia Cucinotta), para
subjugar a pequena opressão doméstica promovida por seu pai idoso –que se diz
comunista mas não quer dividir nada com ninguém!!! –e até mesmo para almejar
uma vida melhor.
Seria bastante obtuso não reconhecer o enorme e
significativo peso dramático que o formidável “Cinema Paradiso” exerce sobre
este filme: Não somente na presença de Philippe Noiret, mas também na
familiaridade de trama que esboça o amadurecimento intelectual e emocional de
um personagem através de um mentor de inspiração.
É, sobretudo, a presença de Massimo Troisi quem
determina aquilo que este filme é: Massimo, que já sofria do coração durante as
filmagens, teria se tornado uma estrela internacional se tivesse ficado vivo
para testemunhar o amplo sucesso de seu filme. Sua condição física obrigou o
diretor Radford a rever a construção de cenas que havia pré-determinado, dando
ao seu trabalho uma orientação mais intimista, obrigando-o a empregar sua
criatividade de maneira muito mais austera e equilibrada.
O resultado foi uma obra
absolutamente sutil, onde felizmente, a fama e o personagem exuberante de
Noiret não se sobressaem –risco que poderia ter corrido –proporcionando, em vez
disso, uma narrativa lírica e emocionante.
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