terça-feira, 18 de abril de 2017

O Carteiro e O Poeta

Eis um filme pleno em sua poesia. São lindas as imagens que a câmera do diretor Michael Radford (da brilhante versão de “1984 de Orwell”) capta, ao registrar os caminhos por onde passa, esbaforido com sua bicicleta, o carteiro de uma pequena ilha do Mediterrâneo, Mario (Massimo Troisi, que morreu quando o filme ainda estava em pós-produção e ganhou assim uma indicação póstuma ao Oscar de Melhor Ator) que, mais tarde, construirá com o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret, de “Cinema Paradiso”), ali exilado, uma transformadora amizade.
O ano é 1952, e Neruda sofre o afastamento forçado de seu povo e sua pátria que ele defendia ideologicamente com tanto fervor.
Em sua simplicidade, Mario se deixa fascinar por essa paixão e Neruda se encanta dessa inocência e, a partir da influência poderosa do famoso poeta, o tímido carteiro já arruma também coragem para declamar a sua própria paixão pela bela Beatrice (Maria Grazia Cucinotta), para subjugar a pequena opressão doméstica promovida por seu pai idoso –que se diz comunista mas não quer dividir nada com ninguém!!! –e até mesmo para almejar uma vida melhor.
Seria bastante obtuso não reconhecer o enorme e significativo peso dramático que o formidável “Cinema Paradiso” exerce sobre este filme: Não somente na presença de Philippe Noiret, mas também na familiaridade de trama que esboça o amadurecimento intelectual e emocional de um personagem através de um mentor de inspiração.
É, sobretudo, a presença de Massimo Troisi quem determina aquilo que este filme é: Massimo, que já sofria do coração durante as filmagens, teria se tornado uma estrela internacional se tivesse ficado vivo para testemunhar o amplo sucesso de seu filme. Sua condição física obrigou o diretor Radford a rever a construção de cenas que havia pré-determinado, dando ao seu trabalho uma orientação mais intimista, obrigando-o a empregar sua criatividade de maneira muito mais austera e equilibrada.
O resultado foi uma obra absolutamente sutil, onde felizmente, a fama e o personagem exuberante de Noiret não se sobressaem –risco que poderia ter corrido –proporcionando, em vez disso, uma narrativa lírica e emocionante.

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