sexta-feira, 21 de abril de 2017

O Homem da Linha

Uma mulher. Um trem. Ela (Stéphane Excoffier) adormece durante o percurso da locomotiva e, logo, a paisagem que transcorre pela janela lhe é estranha. O trem pára, e ela, julgando ter chegado ao seu destino, desembarca.
Não chegou. Lá é uma pequenina estação no meio do nada. Não está ligada a cidade alguma e, exceto pelo solitário zelador (Jim Van Der Woude) que cuida da linha ferroviária (e que fala um idioma que ela não entende), não há uma viva alma por perto.
Ao tentar regressar ela perde sua oportunidade: O trem já partiu. Sua decisão lógica é esperar pelo trem seguinte, mas os dias transcorrem sem que nenhum transporte desponte pelos trilhos, e com isso também as semanas, e os meses... e os anos.
É em torno dessa premissa surreal, de ampla margem para a alegoria, que se desenvolve o fascinante filme do diretor holandês Jos Stelling.
Como na maioria de suas obras –inclusive no sensacional e anterior “O Ilusionista” que também contava com o ator Jim Van Der Woude no elenco –Sterling exercita um estilo imediatamente identificável: Imagens construídas em pormenores cuidadosos, específicos e quase sempre magistrais (aqui, ele conta, afinal, com quatro diretores de fotografia!); as cores (em especial, o vermelho e o púrpura) empregadas com insuspeito propósito narrativo e sentimental; e os diálogos tornados quase inexistentes o quê, na ausência da palavra, reforça a força de significado das cenas.
Não é difícil presumir a direção na qual essa situação absurda e surreal será encaminhada: A mulher, com o tempo tratará de operar uma transformação na vida do pobre homem, ora proporcionando uma gama de sensações que ele, em toda sua vida reclusa, nunca experimentou, ora fazendo-o sentir a profunda angústia típica das crises habituais de um relacionamento entre homem e mulher. Independente do bem ou do mal nesse viés que a desestabilizadora presença dela trás, Stelling é taxativo em opinar que esse é, para o protagonista, um passo em direção à destruição.
Entretanto, se tal destruição é em si inapelável, Stelling conclui em seu filme, pelo menos que ela venha embalada em êxtase e lirismo.
E nas formas sempre desconcertantes de uma bela mulher.

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