O reencontro de dois amigos de longa data e as
escapadas sexuais que se seguem em forma de estratagemas que elaboram juntos, a
vã tentativa de recuperar a chama de vivacidade de um tempo que se foi, estes
são os argumentos que pairam em torno deste trabalho de Walter Hugo Khouri no
qual ele retoma as aventuras do personagem Marcelo, aqui interpretado por
Roberto Maya, com a mesma fleuma que Khouri exigiu de seus outros intérpretes.
Durante algum tempo, contudo, Marcelo é até
deixado de lado em prol de Luciano (Serafim Gonzalez), que amarga a
mediocridade em que tornou-se sua vida enquanto o reencontro com o amigo bem
sucedido não ocorre: Luciano tornou-se dentista e, embora seja casado com a
bela Anita (vivida ainda por cima pela espetacular Helena Ramos), seu casamento
caiu num marasmo deprimente que o leva a ocasionais traições com este ou aquele
rabo de saia em seu consultório de quinta categoria.
Há nesse momento então uma variação bem-vinda
aos questionamentos de sempre de Khouri; ainda não está em foco o homem culto,
sofisticado, bem de vida e materialmente estável –o personagem que abre o filme
é mais um retrato do brasileiro comum, insatisfeito, malandro ao seu jeito, e
tentando ganhar alguma vantagem com os parcos recursos que tem.
Quando surge Marcelo na história (aparecendo,
por acaso, no consultório de maneira aleatória para tratar de um dente que
dói), e interrompendo uma aventura casual (participação breve e com nudez da
bela Aldine Muller –esse Khouri!), ele logo se identifica com a insatisfação do
amigo dos tempos de juventude: Afinal, Marcelo a despeito da vida luxuosa que
tem possui, também ele, insatisfações ávidas por serem preenchidas –seu
casamento com Ana (a deslumbrante Sandra Brea) está envolto num silêncio
incômodo e esmagador do qual Marcelo paulatinamente tenta escapar refugiando-se
em outro tipo de solidão.
Quando Marcelo reencontra Luciano, o verniz da
camaradagem é então um bálsamo que ambos usufruem com prazer e alivio.
Novos planos para farrearem juntos se seguem, e
eles culminam num quarto de hotel luxuoso que Marcelo possui (dentro do qual
grande parte do filme passará), para onde tem por hábito levar suas conquistas,
entre elas Gina (Nicole Puzzi), amiga de sua filha, mais uma vez de nome Berenice,
e mesmo ela, ainda que com uma brevíssima aparição, surge para sugerir a
atração incestuosa entre pai e filha –vislumbrada numa única cena, nem um pouco
explorada na narrativa, mas significativa para outros filmes de Khouri da fase
Marcelo que abordarão melhor o Complexo de Electra.
“Convite Ao Prazer” é conduzido
pelo diretor Khouri, a partir de um determinado ponto, como uma elegantíssima
peça de teatro, onde as inquietações íntimas de seus personagens encontram um
palco adequado e apropriado para se deixar expressar, e a dicotomia entre o
personagem Marcelo e o personagem Luciano é explorada em suas mais diversas
nuances; suas posturas inevitavelmente diferentes em relação ao sexo casual, à
rotina diária de suas vidas e ao vazio existencial que a ambos consome.
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