Eric (Rutger Hauer) é transgressor típico da
juventude holandesa dos anos 1970 a que pertence; além de tudo é artista e
petulantemente questionador. A jovem Olga (Monique Van De Ven), profundamente
irritadiça com as restrições paternas vê, no namoro com Eric, uma maneira bastante
prática e natural de questionar a atitude dos pais.
Desse ímpeto de ingênua transgressão é que se
constrói o romance imaginado por Paul Verhoeven. E quem conhece Verhoeven há de
imaginar que o registro de tal relacionamento não será destituído de sua habitual
inclinação para com cenas de nudez e sexo, ostentadas de forma generosa.
Sua câmera estuda os corpos como forma de
entender o ideário da juventude da época, na medida em que tal despojamento é,
por assim dizer, a ação que os define (e em sua trangressão, o diretor
Verhoeven não economiza qualquer ousadia para fazer deste um dos títulos mais
atrevidos de sua muito atrevida filmografia!).
Há em Eric e Olga a propensão para adquirir
maturidade e nela encontrar um lugar em que sua relação fique em harmonia, mas
esse não parece ser o caminho sereno pelo qual o diretor os guiará: Como
interessa a seu peculiar cinema, os atritos entre a vigência e o inconformismo
cobram sempre seu preço, e as conseqüências são ilustradas no terço final deste
belo ainda que mal-comportado filme, onde os dois jovens amantes, depois de um
tempo separados, se reencontram e reencontram também um meio de encerrar de uma
vez por todas a sua relação.
O filme de Verhoeven, em
princípio, parece irmanar-se a muitos trabalhos característicos dos anos 1970,
que experimentaram os limites comerciais do sexo (“O Último Tango em Paris”, “O
Império dos Sentidos”), mas é, acima de tudo, um produto tipicamente holandês,
e brilhantemente indicativo da fase fervilhante e audaciosa que o jovem cinema
holandês vivia –e Verhoeven, por sua vez, se mostra um de seus mais notáveis
artesãos, ao incutir este conto sarcástico e sensual de uma agridoce
constatação: A maturidade está ali na esquina, e ela chegará mesmo aos mais
imprevisíveis, ainda que essa chegada traga toda a dor que, em sua inércia
juvenil, eles tentaram ignorar.
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