domingo, 11 de junho de 2017

O Pássaro das Plumas de Cristal

Cercado de arte por todos os lados –assim se dá o assassinato que dá início a este filme de Dario Argento.
O filme através do qual ele ensaiou seus primeiros passos como o realizador de substancial estilo que veio a se tornar. O filme em que moldou a sua concepção própria do sub-gênero ‘giallo’, iniciado pouco antes por Mario Bava, do qual Argento viria a ser um dos pilares. O filme que iniciou uma de suas mais cultuadas trilogias entre seus apreciadores: A Trilogia dos Bichos.
Numa comparação um pouco inconseqüente, podemos recordar de dois grandes dançarinos que fizeram a fama do gênero musical na Velha Hollywood: Fred Astaire e Gene Kelly.
Fred Astaire era o requinte. Gene Kelly era o vigor.
Com efeito, dentro do gênero ‘giallo’ que ajudaram a definir, os diretores Mario Bava e Dario Argento, têm características similares. Mario Bava era Fred Astaire. Dario Argento era Gene Kelly. Bava era todo requinte. Argento era todo vigor.
E esse vigor já se percebe em “O Pássaro das Plumas de Cristal”, na objetividade com que ele se lança nas mesmas inquietações que marcaram sua grande contribuição ao terror (o olhar e o resgate paulatino daquilo que se viu e que não deixou-se apreender como cerne de todo o conflito simbólico narrativo), e na recriação exuberante de uma encenação que aponte perfeitamente os seus propósitos e valores: Daí o assassinato, logo no início do filme, se dar em uma galeria de arte, cujo acontecimento, isolado fisicamente por paredes de vidro que ainda assim permitem que o protagonista testemunhe toda a atrocidade –a arte, na concepção de Argento está a disposição de avaliação e análise por todo público, mas seu mistérios ocultos, bem como sua elucidação, são privilégios para poucos.
Tal protagonista (Tony Musante), como toca a uma estrutura narrativa de convenção de gênero passará o restante do filme às voltas com a investigação para encontrar o assassino que, durante os noventa e cinco minutos do filme, perpetrará estranhas mortes por toda Roma.
Estabelecendo uma analogia entre o modus operanti psicopata e o próprio processo de criação cinematográfica –o quê leva a uma incontornável identificação do autor com o assassino –Argento leva aqui à um questionamento atual, mas que parecia estar à anos distante de ocorrer aos realizadores comerciais de sua época: O ímpeto de deflagrar o mal contra seus semelhantes pode ser, afinal, uma predisposição que arde em cada um de nós.

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