Haviam idéias que habitavam em profusão a mente
de Katsuhiro Otomo em 1988, quando ele ainda colhia os louros pelo sucesso
estrondoso da inovadora animação “Akira”.
Embora fosse esse (e ele ainda o é) um exemplar
de perfeita genialidade técnica e artística da animação japonesa, Otomo não
estava satisfeito: Ele esperou quase duas décadas, até que a tecnologia em
computação gráfica estivesse à altura de sua visão para lançar sua obra
seguinte, o extraordinariamente arrojado “Steamboy”.
Ao contrário de “Akira”, que lançava a visão
épica e audaciosa de Otomo para o futuro, “Steamboy”, embora carregue traços
indiscutíveis de ficção científica, volta-se para o passado. Seria, portanto,
uma ‘ficcção retrô’: Na Inglaterra vitoriana do século retrasado, a energia a
vapor era o impulsor industrial da sociedade, e as maiores mentes do mundo
buscavam meios de aprimorar esse poder, a um só tempo assombroso (era capaz de
movimentar uma série inteira de maquinários pesadíssimos) e perigoso (sua
utilização consistia de caldeiras de alta pressão que poderiam explodir de uma
hora para outra).
A responsabilidade sobre o manejo da energia à
vapor recai sobre as três gerações da família Steam: o patriarca e seu filho
que, antes de virarem antagonistas, criam um globo pequeno dotado da inédita
capacidade de acumular mais energia com menos tamanho; e o membro mais jovem,
Ray, a quem resta a obrigação de proteger o mundo e seus entes queridos do
enorme perigo que correm ao manipular a pressão do vapor. A guerra despertada
pela curiosidade por tal poder mostra-se iminente –e ela atrai o interesse de
financiadores norte-americanos, como as Indústrias O’ Hara, ávidos pelas possibilidades megalomaníacas da criação da Família Steam; a jovem e
petulante herdeira dessa corporação, por sinal, é um sutil interesse amoroso do
jovem herói, Srta. Scarlett (o quê agrega, ao filme de Otomo, uma sensacional
referência à protagonista de “E O Vento Levou”).
Ao se assistir “Steamboy”, tem-se um instante
de assombro e curiosidade –tão brilhantemente concebido, em níveis de detalhes
ínfimos, é sua premissa e a própria mitologia que cerca seus personagens e seu
mundo, que o trabalho de Otomo tem ainda mais valor, coerência e seriedade do
que um filme real, feito com atores reais.
E pode chegar até mesmo a
ocorrer ao expectador o porque dele não ter feito esse trabalho em live-action.
Nem precisa: Como animação “Steamboy” é mais brilhante do que qualquer filme que
poderia surgir de sua idéia.
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