Aos poucos, pode-se perceber no cineasta chinês
Zhang Ymou um grande apreço pelo cinema hollywodiano e sua inclinação
implacável para o comercial.
Se essa tendência se insinuou no ótimo “Flores
do Oriente”, mais tarde apresentando-se quase explícita em “A Grande Muralha”,
já haviam pistas de tal preferência em trabalhos anteriores, sejam nos filmes
que realizou, como “Herói”, “O Clã das Adagas Voadoras” e “A Maldição da Flor
Dourada” –cada vez mais propenso a um senso megalomaníaco de espetáculo –seja
neste incomum épico ambientado na China Antiga que atreve-se a refilmar a trama
de “Gosto de Sangue”, o primeiro trabalho dos Irmãos Coen.
Dessa forma, uma pequena loja de macarrão na
China Antiga torna-se palco de uma série de crimes e intrigas: Ciente de que
sua jovem esposa o trai, o proprietário encomenda o assassinato dela e do
amante por um soldado das milícias imperiais. Entretanto, o soldado mata o
marido a fim de roubar-lhe o dinheiro. Perplexo, o amante descobre o corpo
julgando que foi obra da esposa, levando diversos qüiproquós e traições a se
seguirem.
Não era, nem simples, nem fácil, a tarefa
melindrosa e escorregadia que o diretor Zhang Ymou se propôs aqui: Ao criar uma
versão chinesa para um clássico do humor negro noir como "Gosto de
Sangue", o realizador cai em diversas armadilhas, como a impossibilidade
de recriar a complexidade moral e narrativa que torna o trabalho dos Coen tão
único, além da percepção intrinsecamente norte-americana (remetendo à
ambientação no Texas como parte essencial da construção do clima, e os
desenlaces mais violentos se fazendo irmanar à alguns dos mais referenciais
faroestes) que eles deram ao seu filme.
Ao tentar transpor isso tudo para um filme seu,
e a partir daí vislumbrar uma obra própria, Ymou vale-se de aproveitamentos
sucintos e básicos –a poeira típica dos desertos norte-americanos substituídas
pelas arenosas pradarias das províncias mais longínquas da China, por exemplo
–mas, a característica mais intrigante dessa tentativa de adaptação acaba sendo
a forma com que ele dá corpo narrativo ao trecho final (que em “Gosto de Sangue”
é um indicativo contundente da genialidade dos Coen) transformando seu filme
num estranho suspense sorrateiro pontuado de seqüências nervosas e silenciosas,
que ganham inesperado aura de absurdo quando embaladas em sua costumeira e
arrebatadora beleza visual.
O estilo bastante desigual
que essa mistura termina gerando tem tudo a ver com os Coen, mas Zhang Ymou não
parece saber manipulá-lo com desenvoltura.
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