sábado, 22 de julho de 2017

Ghost In The Shell - Vigilante do Amanhã

Já data de algum tempo a tentativa de realizar uma versão cinematográfica em live-action da espetacular animação “Ghost In TheShell”, de Mamoru Oshii. O artesão incumbido dessa tarefa veio a ser Rupert Sanders que, no comando do épico “Branca de Neve e O Caçador”, demonstrou identidade visual e notável fôlego narrativo, além de uma apropriada inclinação ao comercial –ele só não esteve envolvido com a continuação, “O Caçador e ARainha do Gelo” por causa do escândalo decorrido de seu envolvimento adúltero com a atriz Kristen Stewart.
“Vigilante do Amanhã” é uma nova oportunidade para demonstrar competência, além de uma chance para alçar vôos mais altos.
Se a obra de Mamoru Oshii era um objeto cult profundamente referencial –foi a declarada inspiração para, entre outras coisas, “Matrix” –o filme de Sanders é, ele próprio, pontuado por influências: Bebe da fonte do próprio “Matrix”, sobretudo na cinergia elegante de sua primeira cena de ação e, engloba inúmeras outras referências como “Blade Runner” (as estupendas seqüências em meio aos grandes arranha-céus onde se vêem imagens reproduzidas em hologramas são difíceis de se esquecer).
No papel da protagonista, Major Mira Killian, Scarlet Johansson é uma atriz sensacional, ela tira de letra a fisicalidade exigida nas cenas de ação, e mostra desenvoltura seja quando o trabalho requer humor ou drama. Sua versatilidade e solidez ao incorporar a personagem principal é a grande força de “Vigilante do Amanhã”, mais do que a condução ponderada de Sanders, ou o primor técnico de sua recriação do futuro.
Fruto de uma experiência radical onde os humanos têm parte de seus corpos substituídos por materiais cibernéticos, a Major é um caso (o primeiro) onde somente o cérebro restou. A cientista que concedeu seu inovador projeto, Dra. Ouelet (Juliette Binoche, uma luxuosa participação), lhe adverte acerca dos lapsos a que está sujeita devido a sua humanidade –e ela de fato tem lampejos enigmáticos de imagens que será, mais tarde, elucidadas pela narrativa.
Com seu corpo sintético e essas memórias fragmentadas, ela trabalha como operativa do departamento de segurança denominado Seção 9, ao lado do truculento Batou (o ótimo Pilou Asbaek), sob o comando do comandante Aramaki (outra luxuosa participação desta vez a de ‘Beat’ Takeshi Kitano).
Uma das investigações movidas pela Major contudo a levam até o misterioso Kuze (o ator Michael Pitt, de “Os Sonhadores” e da versão 2007 de “Violência Gratuita”, que aqui assina Michael Carmen Pitt) –um personagem que substitui o vilão Puppet Master da animação original com um pouco mais de ambigüidade moral, mas menos complexidade; nesta nova versão, há toda uma ligação ligeiramente forçada do antagonista com a heroína. Sanders também amplia os elementos investigativos da trama, aumentando o número das cenas (e, por conseqüência, a duração do filme), mas, não necessariamente lhe acrescentando algo.
Comparar este filme com a animação original soa um tanto injusto: “Ghost In The Shell” foi uma obra revolucionária e audaciosa, introduzindo elementos ao gênero de ficção científica que outros filmes só teriam desenvoltura para trabalhar muitos anos depois.
O filme de Sanders é, quando muito, uma tendência de mercado tardia –em seus termos, ele lembra uma série de filmes que já foram feitos, ao invés de sinalizar um cinema que ainda virá.

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