sábado, 26 de agosto de 2017

Espíritos - A Morte Está Ao Seu Lado

O cinema tailandês é pouco visto no circuito comercial de modo geral (o quê me recorda quando tive a oportunidade de assistir “Mary Is Happy, Mary Is Happy” num festival de cinema), normalmente se restringindo a alguns filmes de artes marciais e outros tantos de terror –um filão no qual, nas últimas décadas, o cinema oriental se mostrou exímio.
Esse é o caso deste “Espíritos-A Morte Está Ao Seu Lado”, lançado aqui em 2005, cuja trama é pontuada de reflexos habituais do gênero, trabalhados com bastante propriedade pela direção, hábil em ocultar as restrições orçamentárias e, em contraponto, enfatizar as jogadas surpreendentes do roteiro.
Thun e Jane são um casal apaixonado. A primeira cena registra sua descontração junto do grupo de amigos de Thun. Eles retornam para casa a bordo do veículo dirigido por Jane. Uma distração ocorre e ela termina atropelando uma jovem. Thun tem uma reação rápida e, para Jane, inesperada: Grita para que ela saia dali com o carro imediatamente, abandonando a jovem caída no meio da estrada.
Nos dias que se seguem Jane se vê abalada pelo ocorrido, sobretudo, quando coisas muito estranhas começam a acontecer. A narrativa levada a cabo pelos diretores Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom obedece a alguns paradigmas do gênero: Enquanto Jane identifica, aflita, os elementos sobrenaturais de praxe interferindo na harmonia de seu apartamento, Thun se revela cético, o típico personagem que, nos filmes de terror, comete as incoerências que normalmente deflagram o plot; ele é, mas não da maneira que imaginamos –tudo fica muito mais interessante quando, numa reviravolta notável (ainda que um tanto mirabolante), descobrimos um segredo que Thun guardava de Jane, no que certamente se revela um ardil narrativo da parte de seus realizadores. E é justamente por isso, por essa guinada tão súbita que o filme amplifica seu interesse.
Verdade seja dita: A técnica também é primorosa; a construção das cenas se revela inteligente, com truques que fundem a montagem, o enquadramento de câmera, a iluminação e o som digressivo na criação de uma atmosfera apropriadamente opressiva.
“Espíritos” teve uma repercussão notável entre os aficcionados do gênero (e um considerável sucesso de público em todo o mundo, o que levou até a uma continuação), seguindo assim o percurso natural de toda a produção estrangeira que se revela brilhante: A refilmagem.
Ele ganhou uma versão norte-americana (“Imagens do Além”, de 2008, dirigido por Masayuki Ochiai), obviamente inferior e prejudicada por diversas concessões mercadológicas e outra versão, veja só, indiana, “Click”, de 2010, dirigido por Sangeeth Sivan. Todas elas aproveitando o inteligente impacto visual e narrativo proporcionando pelas tenebrosas imagens de fotos que capturam espíritos. Nenhuma dessas produções, entretanto, consegue ser tão eficiente e objetiva quanto este original tailandês.

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