O cinema tailandês é pouco visto no circuito
comercial de modo geral (o quê me recorda quando tive a oportunidade de
assistir “Mary Is Happy, Mary Is Happy” num festival de cinema), normalmente se
restringindo a alguns filmes de artes marciais e outros tantos de terror –um filão
no qual, nas últimas décadas, o cinema oriental se mostrou exímio.
Esse é o caso deste “Espíritos-A Morte Está Ao
Seu Lado”, lançado aqui em 2005, cuja trama é pontuada de reflexos habituais do
gênero, trabalhados com bastante propriedade pela direção, hábil em ocultar as
restrições orçamentárias e, em contraponto, enfatizar as jogadas surpreendentes
do roteiro.
Thun e Jane são um casal apaixonado. A primeira
cena registra sua descontração junto do grupo de amigos de Thun. Eles retornam
para casa a bordo do veículo dirigido por Jane. Uma distração ocorre e ela
termina atropelando uma jovem. Thun tem uma reação rápida e, para Jane,
inesperada: Grita para que ela saia dali com o carro imediatamente, abandonando
a jovem caída no meio da estrada.
Nos dias que se seguem Jane se vê abalada pelo
ocorrido, sobretudo, quando coisas muito estranhas começam a acontecer. A
narrativa levada a cabo pelos diretores Banjong Pisanthanakun e Parkpoom
Wongpoom obedece a alguns paradigmas do gênero: Enquanto Jane identifica,
aflita, os elementos sobrenaturais de praxe interferindo na harmonia de seu
apartamento, Thun se revela cético, o típico personagem que, nos filmes de
terror, comete as incoerências que normalmente deflagram o plot; ele é, mas não
da maneira que imaginamos –tudo fica muito mais interessante quando, numa
reviravolta notável (ainda que um tanto mirabolante), descobrimos um segredo
que Thun guardava de Jane, no que certamente se revela um ardil narrativo da
parte de seus realizadores. E é justamente por isso, por essa guinada tão súbita
que o filme amplifica seu interesse.
Verdade seja dita: A técnica também é
primorosa; a construção das cenas se revela inteligente, com truques que fundem
a montagem, o enquadramento de câmera, a iluminação e o som digressivo na criação
de uma atmosfera apropriadamente opressiva.
“Espíritos” teve uma repercussão notável entre
os aficcionados do gênero (e um considerável sucesso de público em todo o
mundo, o que levou até a uma continuação), seguindo assim o percurso natural de
toda a produção estrangeira que se revela brilhante: A refilmagem.
Ele ganhou uma versão
norte-americana (“Imagens do Além”, de 2008, dirigido por Masayuki Ochiai),
obviamente inferior e prejudicada por diversas concessões mercadológicas e
outra versão, veja só, indiana, “Click”, de 2010, dirigido por Sangeeth Sivan.
Todas elas aproveitando o inteligente impacto visual e narrativo proporcionando
pelas tenebrosas imagens de fotos que capturam espíritos. Nenhuma dessas produções,
entretanto, consegue ser tão eficiente e objetiva quanto este original tailandês.
Nenhum comentário:
Postar um comentário