terça-feira, 15 de agosto de 2017

O Importante É Amar

A seqüência inicial de “O Importante É Amar”, em um diálogo com sua cena final, poderia ser de uma genialidade e simetria das mais admiráveis do cinema, pena que, em algum momento, o diretor Andrzej Zulawski pareça se esquecer disso, embora o formato circular se mantenha ainda que não com perfeição –sutilezas dessa natureza nunca foram o forte do diretor polonês mesmo, por mais que aqui ele se mostre num de seus momentos mais contidos; talvez, inspirado pela presença bastante poderosa de sua atriz principal, a magnífica Romy Schneider.
No entanto, ainda estamos diante de um filme de Andrzej Zulawski: Romy vive uma atriz pornô já entrando numa fase de sua carreira onde a despedida desses papéis começa a se fazer necessária –seu corpo e sua beleza já não têm a vivacidade da juventude.
Ela então conhece Servais (Fabio Teschi), um fotógrafo que apaixona-se por ela enquanto vive essa fase angustiante e transitória: Os esforços dela para construir uma carreira digna como atriz convencional são, talvez, o cerne narrativo do drama, afinal, é com esse objetivo –e também o de, por fim, conquistá-la –que Servais elabora uma peça baseada em Shakespeare, na qual reserva um papel para ela.
Os elementos inerentes à Zulawski como realizador entram em cena, principalmente quando o ator principal dessa peça ganha mais estatura na trama, interpretado por um Klaus Kinski totalmente alucinado, carregado em tintas histéricas e egocêntricas. O personagem de Kinski é um elemento desestabilizador para a harmonia com a qual todos torcem que tudo siga.
Mas, a vida, na cartilha dramática pessoal de Zulawski é um palco essencialmente para vastas possibilidades de escatologia, e tudo está sujeito a se acabar das piores formas possíveis –é dessa matéria-prima, segundo Zulawski, que se compõe o drama.
Acima de tudo, seu filme abre espaço para a disputa de amor entre Servais e Jacques (Jacques Dutronc), o marido de Nadine, a personagem de Romy.
Menos um triângulo amoroso e mais um conto de tormento romântico onde as grandes questões giram em torno do real –e sempre indistinguível –sentimento que uns nutrem pelos outros, o trabalho de Zulawski não se prende aos paradigmas de qualquer filme romântico: É essencialmente uma tragédia a discutir as falhas do ser humano, em contraponto à idealização que ele insiste em fazer da realidade. Daí, o gesto espirituoso com o qual Zulawski justapõe essa reflexão de realidade por meio da piscadela de metalinguagem com a qual inicia e encerra sua obra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário