A seqüência inicial de “O Importante É Amar”,
em um diálogo com sua cena final, poderia ser de uma genialidade e simetria das
mais admiráveis do cinema, pena que, em algum momento, o diretor Andrzej
Zulawski pareça se esquecer disso, embora o formato circular se mantenha ainda
que não com perfeição –sutilezas dessa natureza nunca foram o forte do diretor
polonês mesmo, por mais que aqui ele se mostre num de seus momentos mais
contidos; talvez, inspirado pela presença bastante poderosa de sua atriz
principal, a magnífica Romy Schneider.
No entanto, ainda estamos diante de um filme de
Andrzej Zulawski: Romy vive uma atriz pornô já entrando numa fase de sua
carreira onde a despedida desses papéis começa a se fazer necessária –seu corpo
e sua beleza já não têm a vivacidade da juventude.
Ela então conhece Servais (Fabio Teschi), um
fotógrafo que apaixona-se por ela enquanto vive essa fase angustiante e
transitória: Os esforços dela para construir uma carreira digna como atriz
convencional são, talvez, o cerne narrativo do drama, afinal, é com esse
objetivo –e também o de, por fim, conquistá-la –que Servais elabora uma peça
baseada em Shakespeare, na qual reserva um papel para ela.
Os elementos inerentes à Zulawski como
realizador entram em cena, principalmente quando o ator principal dessa peça
ganha mais estatura na trama, interpretado por um Klaus Kinski totalmente
alucinado, carregado em tintas histéricas e egocêntricas. O personagem de
Kinski é um elemento desestabilizador para a harmonia com a qual todos torcem
que tudo siga.
Mas, a vida, na cartilha dramática pessoal de
Zulawski é um palco essencialmente para vastas possibilidades de escatologia, e
tudo está sujeito a se acabar das piores formas possíveis –é dessa matéria-prima,
segundo Zulawski, que se compõe o drama.
Acima de tudo, seu filme abre espaço para a
disputa de amor entre Servais e Jacques (Jacques Dutronc), o marido de Nadine,
a personagem de Romy.
Menos um triângulo amoroso
e mais um conto de tormento romântico onde as grandes questões giram em torno
do real –e sempre indistinguível –sentimento que uns nutrem pelos outros, o
trabalho de Zulawski não se prende aos paradigmas de qualquer filme romântico: É
essencialmente uma tragédia a discutir as falhas do ser humano, em contraponto à
idealização que ele insiste em fazer da realidade. Daí, o gesto espirituoso com
o qual Zulawski justapõe essa reflexão de realidade por meio da piscadela de
metalinguagem com a qual inicia e encerra sua obra.
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