Assim como “O Casal Osterman”, de Sam
Peckinpah, e “A Tocha de Zen”, de King Hu, este "Parenthood" é um daqueles casos de títulos
nacionais equivocados que não dão a menor idéia do que será de fato a produção
em si. Pior: Seu título sugere uma comédia rasgada e pastelão –impressão potencializada
pela presença de Steve Martin –que o filme, no fim das contas, não é. O quê
deve ter frustrado muitos expectadores mal informados que lhe foram conferir.
O trabalho do diretor Ron Howard (ainda nos
anos 1980, antes da consagração com “Apollo 13” e “Uma Mente Brilhante”),
contudo, é cheio de sutileza e inteligência, daquelas raras comédias agridoces
que apelam à maturidade do público.
A começar pela estrutura do roteiro que
compartilha a trama entre diversos personagens, todos membros de uma mesma
família, os Buckman.
O protagonista, Gil (Steve Martin,
admiravelmente contido), guarda um leve ressentimento da educação algo rude
recebida de seu pai (o sensacional Jason Robards), e almeja uma proximidade de
seus três filhos pequenos muito maior do que a que ele teve. Tudo, entretanto,
atrapalha. Sejam as exigências profissionais, sejam as próprias crianças e seus
eventuais problemas escolares e de adequação, o que leva Gil e sua esposa Karen
(a cativante Mary Steenburgen) a questionar seus desempenhos como pais.
Do lado da irmã de Gil, Helen (Dianne Wiest, ótima)
as coisas não estão muito mais simples: Divorciada, ela se vê perplexa –e, na
maioria das vezes, sem saber o quê fazer –com o comportamento do filho pré-adolescente
Garry (Joaquim Phoenix, ainda bem jovem, aqui assinando ainda como Leaf
Phoenix) e as atitudes rebeldes da filha Julie (Martha Plimpton) que cismou de
se envolver com um rapaz desajustado, Tod (Keanu Reeves, na fase “Bill &
Ted”).
Já a irmã mais jovem, Susan (a bela Harley
Kozak) tem um casamento cada vez mais asséptico com o metódico Nathan (Rick
Moranis, apático), uma vez que ele se dedica menos ao relacionamento com a
esposa e mais à educação pouco usual da filha pequena dos dois.
O próprio patriarca interpretado por Jason
Robards tem lá seus problemas: O caçula Larry (Tom Hulce, de “Amadeus”)
retornou para o seio da família e trouxe a tira-colo um filho pequeno que todos
desconheciam –e que logo sobra para os avôs cuidarem –assim como diversas dívidas
irresponsáveis obtidas em jogatina.
É um panorama feito com
carinho das famílias norte-americanas, sempre às voltas com circunstâncias que
caminham em direção à disfunção, nesse sentido, ele lembra uma pouco a
obra-prima chinesa “As Coisas Simples da Vida”, de Edward Yang.
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