Logo no início já vemos que este é um filme
conduzido por um diretor incomum: O registro das cenas, o ritmo imposto e a
forma como a linguagem narrativa se apresenta, dinâmica, funcional, amplamente
detalhada e inventiva já é suficientemente indicativa. E não é nenhum outro senão
o versátil –e com freqüência insano! –Takashi Miike quem comanda o show.
“Terraformars” começa numa referência incontornável
à “Blade Runner”, com os prédios característicos justapostos um sobre o outro
de modo opressivo, a garoa, as luzes de néon. É nesse cenário futurista que Miike captura
as cenas que introduzirão alguns dos protagonistas, jovens envolvidos com o
crime e que, sem muitas alternativas, são enviados à Marte, onde os
preparativos de terraformagem que almejam fazer daquele planeta uma colônia
para a raça humana encontraram problemas com uma espécie de “baratas” –ou assim,
pelo menos, é a informação que recebem.
Essa história em si, na sua estrutura algo
enaltecedora do ímpeto jovem dos protagonistas e bastante convicta do estilo “super-herói”
conferido aos personagens faz lembrar uma fusão imperfeita e eletrizante de “Batalha
Real” (os jovens enviados contra sua vontade à um ambiente onde precisarão
lutar para sobreviver; e como naquele trabalho aqui há flashbacks que
sistematicamente aprofundam este ou aquele personagem) com “Power Rangers” (o
elemento bastante adolescente e bastante característico desse filão em que os
personagens adotam armaduras como vestimenta e têm seus poderes definidos com
especificações).
Ao chegarem nesse planeta –agora com atmosfera
respirável devido aos séculos de trabalho científico para transformar seu
ambiente em algo similar à Terra –eles descobrem, contudo, uma cruel verdade:
As “baratas” que foram enviados para exterminar –e pelas quais adquiriram ‘superpoderes’
que são versões humanizadas de outros insetos! –são, na realidade, gigantescos seres
desenvolvidos dotados de enorme força e grande indisposição para com os
visitantes humanos.
Adaptado de um mangá –e, de fato, pontuado por
uma inevitável impressão de roupagem pop aos personagens e à premissa –o filme
tem, também, características bastante evidentes do cinema de Takashi Miike: Os
personagens, mesmo aqueles que a narrativa nos instiga a crer serem
fundamentais à trama, morrem de maneira abrupta, inesperada e quase sempre das
formas mais sanguinolentas e extremas possíveis. E o designer nos ‘monstros/baratas
ou o que quer que sejam aquelas coisas’ (!) é de um cuidado desconcertante,
gerando uma impressão completamente distinta em relação aos demais monstros (em
geral, os alienígenas) normalmente personificados pelo cinema –e, por isso
mesmo, os rompantes de violência súbita (quase bipolar) que essas criaturas
deflagram em cena são os momentos mais impressionantes do filme.
Colocando todas essas características em
perspectiva, o diretor Takashi Miike fez um filme difícil de se classificar:
Se por um lado apela ao gosto quase adolescente do expectador com sua trama à
beira do simplista e seus elementos típicos de filme de super-herói, a direção
de Miike oferece lampejos transgressivos em seu registro da violência (ainda
que esse aspecto gore esteja bem presente nas HQs) e nas ocasionais guinadas de
imprevisibilidade que ele parece cultivar na trama.
Tudo isso torna difícil
determinar para qual público exatamente este filme foi feito –e, em se tratando
de Takashi Miike, esses elementos podem muito bem convergir no atrativo cult
que esta produção pode adquirir nos próximos anos, embora ainda assim este seja
um de seus trabalhos menos relevantes.
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