quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Corpo Fechado

O lançamento de “Fragmentado” reacendeu a esperança de toda uma legião de fãs deste cultuado trabalho de M. Night Shyamalan que, por tanto tempo, sonharam com uma continuação das aventuras (se é que se pode chamar assim) do personagem David Dunn, magnificamente interpretado por Bruce Willis.
Em meados do ano 2000, Shyamalan estava com a bola toda. Revelado (e indicado ao Oscar) pelo sensacional “O Sexto Sentido”, o diretor e roteirista tinha toda a atenção do público e da crítica sobre o seu trabalho seguinte, o misterioso “Unbreakable”.
Obedecendo uma espécie de conceito que ele adotou em “O Sexto Sentido” –e numa série de projetos que vieram depois –este novo trabalho de Shyamalan (aqui no Brasil batizado como “Corpo Fechado”...) dava uma roupagem de seriedade, fatalismo e até dramaticidade à uma premissa fantasiosa; se em “O Sexto Sentido” eram filmes de fantasmas, em “Corpo Fechado”, eles eram adaptações de histórias em quadrinhos.
Tudo isso feito numa época, diga-se, em que tais adaptações não tinham o monopólio comercial que têm hoje: No ano 2000 existia, quando muito, o primeiro filme dos “X-Men”, e a promessa de um ainda vindouro filme do Homem-Aranha...
Por essas razões, sob inúmeros aspectos, “Corpo Fechado” era um filme a frente de seu tempo.
Retomando a parceria pra lá de bem-sucedida de “O Sexto Sentido”, Shyamalan escalou mais uma vez Bruce Willis para ser o protagonista, David Dunn, um cara até então normal que se torna o único sobrevivente de um brutal descarrilamento de trem. Mais que isso: Além de sobreviver ele não teve um único arranhão sequer.
Quando Elijah Price (Samuel L. Jackson) um estranho colecionador de quadrinhos, portador de uma doença que lhe enfraquece os ossos se apresenta a ele, David percebe coisas que até então não dera atenção, como o fato de nunca ter realmente se machucado ou ficado doente.
Price tem uma teoria: os super-heróis das histórias em quadrinhos são na verdade inspirados em seres humanos reais que eventualmente nascem, crescem e morrem com capacidades sobre-humanas em meio às pessoas normais, capacidades as quais nem sempre imaginam possuir. E segundo sua teoria, David Dunn seria um deles.
Resta, contudo, superar algumas dúvidas bem cabíveis: Se Dunn possui poderes, quais são eles? Quais as suas extensões? Que utilidade ele dará à esses novos dons? E –a mais perturbadora de todas –por qual razão Elijah Price tem tanto interesse nisso?
Narrado com primor singular e uma abordagem adulta que os filmes do gênero ainda não haviam experimentado, “Corpo Fechado” à época, infelizmente, não fez o mesmo sucesso do trabalho anterior de Shyamalan; alguns expectadores se frustraram com seu deliberado distanciamento temático e categórico de “O Sexto Sentido”; enquanto que outros, paradoxalmente, não gostaram justamente por enxergarem inesperadas semelhanças entre os dois filmes (!).
Com o tempo, porém, “Corpo Fechado” encontrou seu público por meio de um culto iniciado em homevideo que cresceu exponencialmente com o passar dos anos –a ponto de tornar o insistente clamor por uma continuação um aborrecimento constante ao diretor em suas aparições públicas.

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