No sensacional “Superman-O Filme”, de Richard
Donner, Lex Luthor (Gene Hackman) afirma em certo momento: “Algumas pessoas lêem
‘Guerra & Paz’ e consideram só um épico de aventuras, enquanto outras, lêem
os ingredientes de uma embalagem de chicletes e descobrem os segredos do
universo!”
Em resumo: A beleza está nos olhos de quem vê.
Isso, mais ou menos, se aplica a este “Questão
de Tempo”, que pode até ser visto como uma comédia romântica por parte do público
(e a presença de Richard Curtis, de “Quatro Casamentos e Um Funeral”, “Um Lugar
Chamado Noting Hill” e “Simplesmente Amor”, no roteiro e na direção torna isso
bastante possível), mas é, num olhar mais atento, muito mais que isso.
Muito se fala aqui sobre o segredo da
felicidade. O quê ele seria? Como encontrá-lo?
Para o jovem inglês Tim (Doomhall Gleeson) esse
objetivo aparentemente não se revela tão inalcançável assim, já que ele descobre
certo dia, através de seu pai (Bill Nigh, impagável), que os homens da família
possuem o incomum dom de voltar no tempo, permitindo a ele assim corrigir
pequenos acontecimentos do cotidiano, ou até mesmo tirar vantagem de certas
situações.
Voltar no tempo continuamente, evitando
deslizes, corrigindo detalhes desastrosos, valendo-se da vantagem de saber como
tudo se sucederá de antemão, e repetir um determinado acontecimento até que
tudo seja perfeito; e ele se aproveita muito disso para, por exemplo, tentar
uma fracassada investida na prima insinuante (Margot Robbie, antes do estrelato
com “O Lobo de Wall Street”), ou conquistar o coração de uma jovem encantadora
(Rachel McAdams) que acaba se tornando sua esposa.
Conforme os anos se passam, ele aprende, ao
longo de sua existência como viajante no tempo, que a vida contém percalços que
são inevitáveis e inerentes para qualquer um, mesmo para alguém que pode mudar
o próprio passado.
É seu próprio pai quem, ao fim, lhe sugere o
segredo da felicidade –ter o dom de voltar no tempo para quem sabe repetir a
vivência de um dia, sim, mas escolher por não usá-lo: E assim saborear cada
momento por aquilo que ele tem de único.
Ao deixar de lado (mas, não
muito) sua propensão crônica ao romantismo, Richard Curtis construiu um belo,
agridoce e às vezes excessivamente açucarado misto de romance e ficção científica
(cuja premissa faz lembrar muito a magistral animação japonesa “A Garota QueConquistou O Tempo”), no qual encontrou a oportunidade de fazer uma emotiva ode
a um meio de vida muito inglês (representado, sobretudo na carismática figura
do grande Bill Nigh), bem como uma bela reflexão sobre o tempo, a vida e a
felicidade.
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