O mérito do trabalho do diretor alemão Percy
Adlon é a maneira orgânica, inusitada e aparentemente deliberada com a qual ele
promove uma transfiguração em seu filme de uma narrativa depressiva e irritante
na sua primeira parte para algo bem mais cativante e saboroso.
Ele basicamente acompanha a turista alemã
Jasmin (a charmosa gorducha Marianne Sägebrecht, estrela de outros trabalhos de
Adlon, como ”Estação Doçura”, e o posterior “Rosalie Vai Às Compras”) quando,
num rompante, larga o insuportável marido no meio de uma estrada em pleno
deserto americano de Nevada.
No calor do momento, Jasmin leva a mala errada,
contendo somente as roupas masculinas dele (!), e é nessas condições
atarantadas que ela chega (a pé!) na lanchonete/motel de beira de estrada
denominada Bagdad Café, mantida aos trancos e barrancos –e aos gritos! –pela
quase sempre estressada proprietária Brenda (C.C.H. Punder).
Uma coleção de estranhos personagens orbita
aquele lugarzinho no meio do nada: Ruby Cox (Jack Palance, inspiradíssimo),
outrora um pintor em Hollywood que vê sua inspiração perdida retornar nas
curvas rechonchudas de Jasmin; Salomon (Darron Flag), o filho de Brenda, cuja
paixão por piano e música os constantes ataques de nervos da mãe nunca permitem
florescer; Phyllis (Monica Calhoun), a filha de Brenda, uma adolescente cada
vez mais afasta da própria família em conseqüência de sua indiferença; Eric
(Alan S. Craig); um mochileiro fascinado por bumerangues; Sal (G. Smokey
Campbell) outrora companheiro da Brenda que, expulso por ela, vive desde então
num carro velho a poucos metros dali (!); e Debby (Christine Kaufmann), a
misteriosa tatuadora que mora num dos quartos.
Todos eles serão profundamente afetados pela
chegada de Jasmin.
A parceria bem sucedida –e, não raro, dotada de
alguma estranheza para os padrões comerciais norte-americanos –entre a
divertida e versátil Marianne Sägebrecht e o diretor Percy Adlon resultou nesta
obra cult que obteve relativa facilidade em achar seu público já no fim dos
anos 1980. O humor intrinsecamente europeu que eles souberam discorrer com
graça em “Estação Doçura” se encontrou com uma ocasional melancolia na
tentativa de se enfatizar sensações como o deslocamento e a solidão, no
entanto, muitas passagens também já antecipavam as estapafúrdias inserções de
comédia pastelão que viriam em “Rosalie Vai Às Compras”.
A música “Calling You”, de
Jevetta Steele, que acrescenta um lirismo árido e lascivo à atmosfera chegou a
ser indicada ao Oscar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário