sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Bagdad Café

O mérito do trabalho do diretor alemão Percy Adlon é a maneira orgânica, inusitada e aparentemente deliberada com a qual ele promove uma transfiguração em seu filme de uma narrativa depressiva e irritante na sua primeira parte para algo bem mais cativante e saboroso.
Ele basicamente acompanha a turista alemã Jasmin (a charmosa gorducha Marianne Sägebrecht, estrela de outros trabalhos de Adlon, como ”Estação Doçura”, e o posterior “Rosalie Vai Às Compras”) quando, num rompante, larga o insuportável marido no meio de uma estrada em pleno deserto americano de Nevada.
No calor do momento, Jasmin leva a mala errada, contendo somente as roupas masculinas dele (!), e é nessas condições atarantadas que ela chega (a pé!) na lanchonete/motel de beira de estrada denominada Bagdad Café, mantida aos trancos e barrancos –e aos gritos! –pela quase sempre estressada proprietária Brenda (C.C.H. Punder).
Uma coleção de estranhos personagens orbita aquele lugarzinho no meio do nada: Ruby Cox (Jack Palance, inspiradíssimo), outrora um pintor em Hollywood que vê sua inspiração perdida retornar nas curvas rechonchudas de Jasmin; Salomon (Darron Flag), o filho de Brenda, cuja paixão por piano e música os constantes ataques de nervos da mãe nunca permitem florescer; Phyllis (Monica Calhoun), a filha de Brenda, uma adolescente cada vez mais afasta da própria família em conseqüência de sua indiferença; Eric (Alan S. Craig); um mochileiro fascinado por bumerangues; Sal (G. Smokey Campbell) outrora companheiro da Brenda que, expulso por ela, vive desde então num carro velho a poucos metros dali (!); e Debby (Christine Kaufmann), a misteriosa tatuadora que mora num dos quartos.
Todos eles serão profundamente afetados pela chegada de Jasmin.
A parceria bem sucedida –e, não raro, dotada de alguma estranheza para os padrões comerciais norte-americanos –entre a divertida e versátil Marianne Sägebrecht e o diretor Percy Adlon resultou nesta obra cult que obteve relativa facilidade em achar seu público já no fim dos anos 1980. O humor intrinsecamente europeu que eles souberam discorrer com graça em “Estação Doçura” se encontrou com uma ocasional melancolia na tentativa de se enfatizar sensações como o deslocamento e a solidão, no entanto, muitas passagens também já antecipavam as estapafúrdias inserções de comédia pastelão que viriam em “Rosalie Vai Às Compras”.
A música “Calling You”, de Jevetta Steele, que acrescenta um lirismo árido e lascivo à atmosfera chegou a ser indicada ao Oscar.

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