sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Babel

Quando realizou este drama que trata das conseqüências do preconceito em relação à diversidade racial, à diferença cultural, entre outros aspectos bastante discutidos na sociedade de hoje, através de quatro histórias entrelaçadas por um mesmo e fatídico evento, as mesmas fórmulas em repetição empregadas pelo diretor Alejandro Gonzales Iñarritu começavam a cansar: Ele havia obtido aclamação com seu denso e vigoroso “Amores Brutos”, ainda no México, e seu trabalho anterior foi o excepcional “21 Gramas” –ou seja, do ponto de vista conceitual, eram filme um bocado parecidos; todos giravam em torno de tragédias pessoais que interligavam personagens completamente distintos, e todos eram, também roteirizados por Guillermo Arriaga.
Ainda um bom filme –e recebido com bastante empolgação pela crítica que culminou em várias indicações ao Oscar 2006 –“Babel” representava uma espécie de encruzilhada profissional para Iñaritu: Ou se provava capaz de fazer algo realmente relevante depois dele, ou amargaria então a mediocridade, a ladeira abaixo que, em geral, se segue à consagração.
A primeira trama de “Babel” –e aquela que aparenta ser sua espinha dorsal –acompanha um casal americano (Brad Pitt e Cate Blanchett) em férias no Marrocos. Eles são surpreendidos quando a mulher é acidentalmente alvejada por um rifle nas mãos de dois pequenos e inocentes pastores de cabras (protagonistas, por sua vez, de outra história).
Paralelamente (mas, não no que diz respeito ao tempo, já que a cronologia do roteiro é toda embaralhada), os dois filhos pequenos do casal enfrentam outro contratempo: São carregados para o México por sua babá (Adriana Barraza) disposta a não perder um casamento de família e, na tentativa de voltar, acabam extraviados no deserto.
Noutra história, relacionada com as demais por uma série de breves artifícios, uma jovem surda-muda japonesa (Rinko Kikuchi) busca por aceitação e amor.
Iñarritu usa das encenações propostas por cada conto individual para capturar pequenos momentos: As opiniões prolixas, porém, beligerantes dos pequenos pastores; o repudio mal contido das crianças norte-americanas perante os costumes do povo latino; a atitude inconscientemente condescendente dos americanos ante as pessoas de Terceiro Mundo que lhes prestaram ajuda. São pequenos comentários dispersos numa obra que sofre pela ausência de sensibilidade do diretor em relação à sutileza proposta –a sintonia com o roteirista Arriaga, durante a realização do filme (como se pode perceber nas entrelinhas), já não era a mesma de antes, e Iñarritu e ele já caminhavam para um rompimento irreversível.
Depois deste trabalho, Arriaga buscou, ele próprio alçar outros vôos cedendo seus roteiros a outrem em “O Búfalo da Noite", e depois ele próprio como diretor em “Vidas Que Se Cruzam”, enquanto Iñarritu tateou em busca de um novo caminho para sua arte, inicialmente de forma tímida em “Biutiful”, com Javier Bardem, terminando por se encontrar em definitivo e impor-se como grande cineasta nos arrojados “Birdman” e “O Regresso”.

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