Esta produção já chama a atenção por tratar-se
de uma adaptação dos quadrinhos eróticos “Valentina”, do italiano Guido Crepax
–o quê fica bem claro nos créditos iniciais que contam com as gravuras no traço
delicado e malicioso de Crepax. O diretor Corrado Farina, por sinal, busca
reproduzir na medida do possível a linguagem desses quadrinhos em alguns
enquadramentos que repetem uma certa simetria dos desenhos do italiano, uma
pena que esse esforço em busca de fidelidade não se reflita nas cenas de nudez
da protagonista, abundantes nas HQs, mas empregadas com timidez e economia aqui
(pelo menos, na versão comercialmente lançada no Brasil...).
Como deve saber qualquer leitor ardoroso dos
quadrinhos, Valentina (a francesa Isabelle de Funes, numa caracterização
satisfatória inclusive no que diz respeito ao figurino) é uma fotógrafa em Roma
que se envolve em constantes aventuras sexuais do meio artístico –talvez, um
comentário de Crepax acerca da promiscuidade e libertinagem daquele ambiente.
O filme que ela protagoniza, no entanto, é
quase um suspense com lances ocasionais e mirabolantes de filme de terror –e
foi comercialmente equivocada a opção de ter dado o título da produção à
antagonista, Baba Yaga (Carroll Baker, uma das muitas atrizes insinuantes e
veteranas que deram vida à personagens assim em filmes do período), e não à sua
personagem principal; o quê relacionaria o filme diretamente aos quadrinhos que
lhe inspiraram.
Baba Yaga é, na realidade, uma antiga lenda
eslava européia (usada em referência nos mais diversos filmes, como “John Wick”), sobre uma feiticeira canibal que assombrava as florestas ermas da
Rússia e região. No filme, é uma mulher extremamente sedutora que enreda
Valentina aos poucos, logo demonstrando alguns poderes sobrenaturais: Ela
aparenta ser capaz de ler mentes no primeiro encontro das duas. Pouco depois,
ela parece interferir em seus sonhos, levando Valentina a ter pesadelos
masoquistas (outra forte característica dos quadrinhos de Crepax) envolvendo
oficiais nazistas (!). Valentina finalmente tem um ímpeto de investigá-la, ou
até mesmo confrontá-la, depois de ter a impressão de que Baba Yaga amaldiçoou
sua câmera, fazendo morrer toda a pessoa que ela viesse a fotografar.
No entanto, as intenções da bruxa são outras:
Baba Yaga deseja, ao que parece, a submissão de Valentina, e o instrumento
perfeito para isso, sem que ela se dê conta, é uma boneca dada a ela de
presente: Essa boneca (toda vestida de adereços sexuais de couro) converte-se
numa mulher real (nas belas formas da atriz Ely Galleani) capaz de fazer mal a
Valentina e matar quem estiver à sua volta.
Para ajudá-la, Valentina conta com o apoio,
inicialmente um pouco descrente, de um flerte, o cineasta Arno (George
Eastman).
Inconcluso como filme de terror, ameno como
filme erótico (lembrando sempre que, nesse sentido, devem haver outras versões
mais ‘picantes’ do que esta daqui) e insuficiente como filme de aventura, esta
obra que ousou levar os quadrinhos de Crepax para o cinema chama a atenção como
um registro de muitos elementos sociais e culturais de sua época, embora seu
curto fôlego como entretenimento não consiga conquistar o público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário