A sensacional estrutura narrativa de “Distrito
9” lembra a de um documentário. São mostrados depoimentos de vários
especialistas e inúmeros entrevistados. A câmera na mão predomina. Porém, são
necessários poucos segundos para ficar claro que é algo muito peculiar o quê o
filme está narrado.
Os eventos registrados mostram a chegada de uma
nave alienígena na Terra (!), mais precisamente na cidade sul-africana de Johanesburgo.
Tal nave se manterá imóvel e suspensa no ar por décadas integrando a espantosa
paisagem –imagem que os bem aplicados efeitos visuais tratam de tornar
antológica.
Dentro da nave, os humanos encontram
alienígenas, sim. Fracos, desnutridos, perplexos e desamparados. Uma favela é
então montada imediatamente à sombra da grande nave e à ela é dado o nome de
Distrito 9 –numa das inúmeras alegorias espetaculares sobre segregação do filme.
Vinte anos então se passam com a convivência
entre alienígenas e humanos padecendo das mesmas mazelas ocasionadas no
apartheid e em outros momentos da história humana.
Até ficar claro que a criminalidade germinada
dentro do Distrito 9 tem o aval de armas projetadas com a assombrosa tecnologia
alienígena. Interessados no potencial desse armamento, os membros do governo
enviam um pelotão de choque sob o pretexto de realocar os alienígenas. O líder
desse plano de assentamento é o burocrata Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley,
fabuloso) que obteve a função graças à influência do sogro.
É quando o filme do diretor Neil Blomkamp sofre
sua brilhante guinada, e sua história –por assim dizer –se permite começar de
verdade: Wikus se vê mergulhado num pesadelo ao estilo “A Metamorfose”, de
Franz Kafka, quando tem acidentalmente contato com material genético alienígena
em meio à uma inspeção; aos poucos, Wikus vai adquirindo gradativamente as
características das criaturas (espécies de insetos humanóides), no que parece ser
um processo para se transformar em uma (!).
Partindo de um promissor curta-metragem de sua
própria autoria, “Alive In Johanesburgh”, o diretor Blomkamp, com o
imprescindível auxílio do produtor Peter Jackson, explora diversas influências
inusitadas (além do famoso e abrangente texto de Kafka, há também elementos
ocasionais de found footage, filmes de super-heróis como “Homem de Ferro” e até
mesmo o brasileiro “Tropa de Elite”) para com elas moldar uma obra
brilhantemente original –talvez, a mais audaz ficção científica dos últimos
tempos –cujo incomum ímpeto criativo não passou despercebido aos membros da
Academia que indicaram “Distrito 9” ao Oscar de Melhor Filme em 2010.
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