segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Distrito 9

A sensacional estrutura narrativa de “Distrito 9” lembra a de um documentário. São mostrados depoimentos de vários especialistas e inúmeros entrevistados. A câmera na mão predomina. Porém, são necessários poucos segundos para ficar claro que é algo muito peculiar o quê o filme está narrado.
Os eventos registrados mostram a chegada de uma nave alienígena na Terra (!), mais precisamente na cidade sul-africana de Johanesburgo. Tal nave se manterá imóvel e suspensa no ar por décadas integrando a espantosa paisagem –imagem que os bem aplicados efeitos visuais tratam de tornar antológica.
Dentro da nave, os humanos encontram alienígenas, sim. Fracos, desnutridos, perplexos e desamparados. Uma favela é então montada imediatamente à sombra da grande nave e à ela é dado o nome de Distrito 9 –numa das inúmeras alegorias espetaculares sobre segregação do filme.
Vinte anos então se passam com a convivência entre alienígenas e humanos padecendo das mesmas mazelas ocasionadas no apartheid e em outros momentos da história humana.
Até ficar claro que a criminalidade germinada dentro do Distrito 9 tem o aval de armas projetadas com a assombrosa tecnologia alienígena. Interessados no potencial desse armamento, os membros do governo enviam um pelotão de choque sob o pretexto de realocar os alienígenas. O líder desse plano de assentamento é o burocrata Wikus Van De Merwe (Sharlto Copley, fabuloso) que obteve a função graças à influência do sogro.
É quando o filme do diretor Neil Blomkamp sofre sua brilhante guinada, e sua história –por assim dizer –se permite começar de verdade: Wikus se vê mergulhado num pesadelo ao estilo “A Metamorfose”, de Franz Kafka, quando tem acidentalmente contato com material genético alienígena em meio à uma inspeção; aos poucos, Wikus vai adquirindo gradativamente as características das criaturas (espécies de insetos humanóides), no que parece ser um processo para se transformar em uma (!).

Partindo de um promissor curta-metragem de sua própria autoria, “Alive In Johanesburgh”, o diretor Blomkamp, com o imprescindível auxílio do produtor Peter Jackson, explora diversas influências inusitadas (além do famoso e abrangente texto de Kafka, há também elementos ocasionais de found footage, filmes de super-heróis como “Homem de Ferro” e até mesmo o brasileiro “Tropa de Elite”) para com elas moldar uma obra brilhantemente original –talvez, a mais audaz ficção científica dos últimos tempos –cujo incomum ímpeto criativo não passou despercebido aos membros da Academia que indicaram “Distrito 9” ao Oscar de Melhor Filme em 2010.

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