Na trama árdua movida por Kenji Mizoguchi, uma
jovem assalariada precisa mover mundos e fundos –em meio ao impiedoso ambiente
do Japão pós-guerra –para sanar as despesas da família, e impedir o adoecimento
do pai idoso.
Tudo dá errado, até que as circunstâncias lhe
deixam apenas com a alternativa ingrata de tornar-se amante de seu patrão.
Ela aceita essas condições que a tornam uma
rejeitada até mesmo em seu seio familiar, numa profunda (e algo dolorida) ênfase da narrativa nos flagrantes de hipocrisia perceptíveis em pequenos detalhes do comportamento da sociedade japonesa de então.
Filmada com expressiva e nítida simpatia pelos
aspectos injustos da trajetória de sua protagonista (o cineasta Kenji Mizoguchi
testemunhou, quando bem jovem, uma de suas irmãs ser entregue a uma casa de
gueixas, o quê definiu profundamente o caráter denunciativo de seu trabalho),
esta obra emblemática –ainda que menor –de Mizoguchi guarda todas as
características que fariam dele um gigante do cinema japonês e mundial: A
primorosa habilidade para reger o registro íntimo de um drama humano, em
especial feminino, e a forma convicta com que lança mão de artifícios adultos e
austeros para dirigir com brilhantismo cenas de natureza emocionalmente
econômica.
Mesmo diante dessa
deliberada exposição de uma dura realidade, a habilidade de Mizoguchi consegue
extrair poesia do sofrimento mundano –essa característica está lá, na desolação
cheia de significado da última cena, e em diversos outros flagrantes desta bela
produção.
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