sexta-feira, 27 de outubro de 2017

O Exterminador do Século 23

Primeiro de uma série de cinco ou seis filmes que se estenderam pela década de 1990 e além, “Trancers” –o título original –como toda produção B de ficção científica dos anos 1980 que se preze teve fortes inspirações em “Blade Runner” (o clima noir-futurista; o protagonista detetive cínico que narra a própria trama, a estética visual cheia de propriedades) e “Exterminador do Futuro” (o enredo sobre viagens no tempo que contrapõe protagonista e antagonista num paradoxo temporal onde deverão acertar as contas).
Uma das realizações decentes do diretor Charles Band (e o fato de existirem poucas a torna ainda mais preciosa), um dos mais ativos realizadores B dos anos 1980 e 90, “Trancers” começa no futuro, século 23, a flagrar a rotina do cínico policial Jack Deth (vivido com presença e pompa por Tim Thomerson), uma versão pobre, mundana e sarcástica do Richard Deckard de Harrison Ford no cult de Ridley Scott.
Deth caça os chamados ‘trancers’ que nada mais são senão asseclas controlados, nem vivos nem mortos, do grande inimigo público número um do futuro, o vilão Whistler (Michael Stefani). Para Deth, a rotina de trabalho só aumenta sua desilusão desde a morte violenta de sua esposa –o quê o leva à regressar, atrás de lembranças, para Los Angeles, agora submersa pelo avanço dos mares (a reconstituição necessariamente econômica de um futurismo distópico e desolado é das mais admiráveis), e à entrar em atrito com seus superiores acarretando sua suspensão do departamento.
Mas, não tarda para que as habilidades de Deth sejam necessárias outra vez: Whistler tem agora um plano para minar o sistema de governo do século 23 –ele volta no tempo (sabe-se lá como...), mais necessariamente nos anos 1980 do século 20 (!), onde assume o corpo que foi de um antepassado seu, e passa a matar os ancestrais dos três membros do conselho de segurança do futuro, fazendo assim com que o efeito borboleta apague suas existências.
Jack Deth, que por acaso tem um antepassado que viveu em L.A. naquela época, deve então voltar no tempo também (num recurso conveniente, mas eficaz em relação à trama, para tornar mais barata e viável a produção do filme) e dar cabo de Whistler, antes que ele consiga concluir seu plano.
(Teria, então, a superprodução “X-Men-Dias deUm Futuro Esquecido” –cujo enredo é parecidíssimo –se inspirado neste filme B? A história em quadrinho de onde Bryan Singer se baseou data do mesmo período de lançamento de “Trancers”, 1985, quem sabe?)
Para complicar a vida de Jack Deth, o antepassado de Whistler vem a ser um policial, e tem, mesmo no passado, o recurso de arregimentar mentes mais fracas para sua legião de ‘trancers’. Para ajudá-lo, ele conta com o inesperado auxílio da gatinha Lena (Helen Hunt, ainda muito jovem, bem antes do Oscar por “Melhor É Impossível”), que contra todas as hipóteses plausíveis acredita em sua mirabolante história (!).
A partir dessa premissa inventiva, o diretor Charles Band conduz o filme com uma noção pontual de entretenimento, caprichando no ritmo e na condução, e envolvendo o expectador com uma trama que une ficção científica, muito corre-corre e personagens carismáticos –Jack Deth é, sem sombra de dúvidas, um protagonista pra lá de memorável!

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