Primeiro de uma série de cinco ou seis filmes
que se estenderam pela década de 1990 e além, “Trancers” –o título original
–como toda produção B de ficção científica dos anos 1980 que se preze teve
fortes inspirações em “Blade Runner” (o clima noir-futurista; o protagonista
detetive cínico que narra a própria trama, a estética visual cheia de
propriedades) e “Exterminador do Futuro” (o enredo sobre viagens no tempo que
contrapõe protagonista e antagonista num paradoxo temporal onde deverão acertar
as contas).
Uma das realizações decentes do diretor Charles
Band (e o fato de existirem poucas a torna ainda mais preciosa), um dos mais
ativos realizadores B dos anos 1980 e 90, “Trancers” começa no futuro, século
23, a flagrar a rotina do cínico policial Jack Deth (vivido com presença e
pompa por Tim Thomerson), uma versão pobre, mundana e sarcástica do Richard
Deckard de Harrison Ford no cult de Ridley Scott.
Deth caça os chamados ‘trancers’ que nada mais
são senão asseclas controlados, nem vivos nem mortos, do grande inimigo público
número um do futuro, o vilão Whistler (Michael Stefani). Para Deth, a rotina de
trabalho só aumenta sua desilusão desde a morte violenta de sua esposa –o quê o
leva à regressar, atrás de lembranças, para Los Angeles, agora submersa pelo
avanço dos mares (a reconstituição necessariamente econômica de um futurismo
distópico e desolado é das mais admiráveis), e à entrar em atrito com seus
superiores acarretando sua suspensão do departamento.
Mas, não tarda para que as habilidades de Deth
sejam necessárias outra vez: Whistler tem agora um plano para minar o sistema
de governo do século 23 –ele volta no tempo (sabe-se lá como...), mais
necessariamente nos anos 1980 do século 20 (!), onde assume o corpo que foi de
um antepassado seu, e passa a matar os ancestrais dos três membros do conselho
de segurança do futuro, fazendo assim com que o efeito borboleta apague suas
existências.
Jack Deth, que por acaso tem um antepassado que
viveu em L.A. naquela época, deve então voltar no tempo também (num recurso
conveniente, mas eficaz em relação à trama, para tornar mais barata e viável a
produção do filme) e dar cabo de Whistler, antes que ele consiga concluir seu
plano.
(Teria, então, a superprodução “X-Men-Dias deUm Futuro Esquecido” –cujo enredo é parecidíssimo –se inspirado neste filme B?
A história em quadrinho de onde Bryan Singer se baseou data do mesmo período de
lançamento de “Trancers”, 1985, quem sabe?)
Para complicar a vida de Jack Deth, o
antepassado de Whistler vem a ser um policial, e tem, mesmo no passado, o
recurso de arregimentar mentes mais fracas para sua legião de ‘trancers’. Para
ajudá-lo, ele conta com o inesperado auxílio da gatinha Lena (Helen Hunt, ainda
muito jovem, bem antes do Oscar por “Melhor É Impossível”), que contra todas as
hipóteses plausíveis acredita em sua mirabolante história (!).
A partir dessa premissa
inventiva, o diretor Charles Band conduz o filme com uma noção pontual de
entretenimento, caprichando no ritmo e na condução, e envolvendo o expectador
com uma trama que une ficção científica, muito corre-corre e personagens
carismáticos –Jack Deth é, sem sombra de dúvidas, um protagonista pra lá de
memorável!
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