Há um certo espaçamento temporal através do
qual o cinema (ou mais precisamente seus realizadores) adquire autonomia emocional
(e, por que não, moral) para lidar com determinados acontecimentos históricos e
melhor vislumbrar os desdobramentos que os anteciparam e os sucederam.
Aconteceu, por exemplo, com o 11 de Setembro, cujas primeiras obras
cinematográficas a abordá-lo surgiram em 2006, com “Vôo United 93”, de Paul
Greenglass, e “As Torres Gêmeas”, de Oliver Stone.
No mesmo ano, foi lançado também um filme que
fazia uma espécie de expiação da parte do cinema britânico acerca da morte da
Princesa Diana, ocorrida num acidente em 1997.
Abstendo-se a abordar os detalhes do acidente
em si (isso a mídia fez bastante) ou do período turbulento que a vida de Diana
passava na época (isso, por sua vez, quem fez foi a irregular produção “Diana”,
de 2014, estrelada por Naomi Watts), o filme dirigido com economia emocional
até excessiva por Stephen Frears observa as conseqüências mais íntimas
acarretadas pela tragédia no seio da família real, e na maneira curiosa com que
a sociedade inglesa reagiu à morte da “princesa do povo” e ao aparente descaso
com que tentaram tratar o fato.
O roteiro árido e objetivo de Peter Morgan opta
como ponto de partida, a Rainha Elizabeth e o início de sua conflituosa relação
com o Primeiro Ministro eleito Tony Blair.
Será o próprio Tony Blair quem precisará, um
pouco mais tarde, apelar de certa forma ao bom senso da monarca quando começar
a ficar óbvia a indignação popular crescente, em meio à comoção mundial causada
pela morte da Princesa Diana num acidente automobilístico, relacionada à
tentativa da família real em não expressar qualquer manifestação de pesar. O
quê, ele percebe, leva o povo inglês à uma inédita tentativa de questionar a
própria monarquia.
O trabalho de Frears, assim, lança um sutil
olhar sobre as delicadas questões familiares que pesaram naquele momento,
justapostas à uma diferenciada reação coletiva. A monarquia vista de dentro em
uma perspectiva familiar de sua obrigação para com os anseios (ainda que
existenciais) de seu povo.
Vencedora do Oscar de
Melhor Atriz, Helen Mirren, como Elizabeth, paira pelo filme com sua magnífica
presença muito bem coadjuvada pelo excelente Michael Sheen (no papel de Tony
Blair). O filme só encontra certo problema no estilo excessivamente britânico,
comedido e distanciado, com que o diretor Stephen Frears aborda o tema, levando
este trabalho no que parece ser uma deliberada isenção de empatia.
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