“Stakeout” –seu título original –é uma
deliciosa mescla de filme policial, comédia e romance em grande parte porque
seu diretor, John Badham (um artesão assíduo durante os anos 1980 e 90),
resistiu ao impulso óbvio de escolher atores de ação para interpretar seus
personagens e optou por escolher atores expressivos que dessem conta de facetas
variadas do filme.
Por isso, pode parecer estranho inicialmente ver
Richard Dreyfuss como o personagem principal, Chris, um policial desafortunado
largado pela esposa e assolado por uma má sorte generalizada em sua profissão.
Ao lado de seu parceiro Bill (Emilio Estevez,
outra escolha ótima e desigual), Chris recebe a missão de realizar uma tocaia
em frente à residência da ex-namorada de Stick Montgomery (Aidan Quinn), um
perigoso bandido que escapou da penitenciária –na arrojada seqüência que abre o
filme.
Chris e Bill encarregam-se do turno da noite,
enquanto que seus competitivos colegas (vividos por Forest Whitaker e Dan
Lauria, da série “Anos Incríveis”) vigiam a casa no turno do dia (e esse
detalhe abre espaço para hilárias pegadinhas que as duplas passam umas às
outras –a veia cômica de Dreyfuss e Estevez é plenamente aproveitada!).
Mas, eis que a moça vigiada em questão, Maria
(a estupenda Madeleine Stowe), vem a ser uma tremenda gata!
Os encontros absolutamente casuais entre ela e
Chris (primeiro, ele vai, disfarçado, instalar uma escuta no telefone dela,
depois, eles se cruzam num mercado) começam a gerar, pouco a pouco uma atração
irresistível que o pobre e desafortunado Chris –assim como Bill, incluído de
gaiato nessa encrenca –precisa rebolar para tentar ocultar do departamento de
polícia.
Não muito lembrado entre os clássicos dos anos
1980 como o filme saborosíssimo que é –pelo menos, não tão lembrado quanto
outros, associados com mais freqüência àquele período –“Tocaia” é um
divertimento onde todas as facetas do entretenimento vêm bem representadas e
preenchidas: Há graça genuína em seus momentos cômicos; a platéia é levada a
vibrar e a torcer pelos desenlaces românticos; tem-se um frenesi dosado e
calibrado nas vertiginosas cenas de ação; e há suspense real e aflitivo nas
cenas de tensão.
Todos esses quesitos da narrativa de Badham
funcionam bem porque, quando eles nos são entregues, já estamos cativados pelos
personagens, nos importando verdadeiramente com o que ocorre a eles –detalhe
fundamental para embarcar na diversão do filme. Essa empatia inesperada só é possível
pela presença de atores incomuns ao gênero que contribuem não com desenvoltura
física, mas com um insuspeito calor humano.
Eis aí, de repente, o
segredo do largo sucesso de bilheteria que “Tocaia” conquistou à sua época: O
poder de fazer o público se identificar com cada uma das peripécias de seus
personagens.
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