quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Um Sonho Possível

Impecavelmente inserido naquela tradição norte-americana de filmes familiares sobre as vitórias da obstinação e do afinco ante as adversidades da vida ou da sociedade (e que encontra, nos filmes de Frank Capra, seus exemplos maiúsculos), esta obra corretíssima (e somente isso, correta) do diretor John Lee Hancock justifica sua incursão nos indicados ao Oscar de Melhor Filme daquele ano (2010) devido à exatidão milimétrica com a qual transcorre sua narrativa, além de um acerto simultâneo nas atuações do elenco (que parecem convergir, por sua vez, em uníssono, na direção daquela que brilha mais: Sandra Bullock).
Trata-se da história de Big Mike (Quinton Aaron, num registro discreto e perfeito), um garoto de rua de estatura gigantesca, ainda que atitude e comportamento de criança. Big Mike –ou Michael Oher, seu nome de fato –desperta o irreprimível instinto materno de Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), uma dona de casa sulista da classe alta, e, ao ser acolhido por ela, passa a morar em sua mansão junto de seu marido e os outros dois filhos.
Aos poucos, o jovem opera uma transformação na vida daquela família à medida que, orientado por eles, começa a ascender no esporte, como jogador de futebol americano.
John Lee Hancock constrói seu filme em cima de pequenas e eficientes sutilezas: Dinâmicas de relacionamento delicadas, sem conflitos contundentes, mas certamente emotivas e muito bem representadas por seu elenco (a aceitação gradual de Big Mike pela filha do casal, vivida por Lilly Collins; a relação engraçada e encantadora dele com o filho mais novo; os diálogos pretensamente adultos e ocasionalmente divertidos de Leigh Anne com seu marido; a tensão que aflora quando o passado de Big Mike ameaça sua felicidade familiar), entretanto, ele é esperto o suficiente para colocar no centro da sua produção, o fator que realmente se mostra infinitamente mais interessante –a relação de cautelosa descoberta e gratificante evolução afetiva entre Leigh Anne e Big Mike construída com amor genuíno.
Esse detalhe não apenas transforma este grande sucesso de bilheteria num daqueles filmes ocasionais no cinema americano em que se registra uma saga familiar de superação e perseverança (tão mais válido quando é baseado em um fato real, como é o caso aqui), como também se mostra o palco perfeito para a performance a um só tempo enérgica e graciosa de Sandra Bullock, seu melhor trabalho (pelo menos, até ela estrelar a obra-prima “Gravidade”), o que valeu a ela o Oscar de Melhor Atriz.

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