Impecavelmente inserido naquela tradição
norte-americana de filmes familiares sobre as vitórias da obstinação e do
afinco ante as adversidades da vida ou da sociedade (e que encontra, nos filmes
de Frank Capra, seus exemplos maiúsculos), esta obra corretíssima (e somente
isso, correta) do diretor John Lee Hancock justifica sua incursão nos indicados
ao Oscar de Melhor Filme daquele ano (2010) devido à exatidão milimétrica com a
qual transcorre sua narrativa, além de um acerto simultâneo nas atuações do
elenco (que parecem convergir, por sua vez, em uníssono, na direção daquela que
brilha mais: Sandra Bullock).
Trata-se da história de Big Mike (Quinton
Aaron, num registro discreto e perfeito), um garoto de rua de estatura
gigantesca, ainda que atitude e comportamento de criança. Big Mike –ou Michael
Oher, seu nome de fato –desperta o irreprimível instinto materno de Leigh Anne
Tuohy (Sandra Bullock), uma dona de casa sulista da classe alta, e, ao ser
acolhido por ela, passa a morar em sua mansão junto de seu marido e os outros
dois filhos.
Aos poucos, o jovem opera uma transformação na
vida daquela família à medida que, orientado por eles, começa a ascender no
esporte, como jogador de futebol americano.
John Lee Hancock constrói seu filme em cima de
pequenas e eficientes sutilezas: Dinâmicas de relacionamento delicadas, sem
conflitos contundentes, mas certamente emotivas e muito bem representadas por
seu elenco (a aceitação gradual de Big Mike pela filha do casal, vivida por
Lilly Collins; a relação engraçada e encantadora dele com o filho mais novo; os
diálogos pretensamente adultos e ocasionalmente divertidos de Leigh Anne com
seu marido; a tensão que aflora quando o passado de Big Mike ameaça sua
felicidade familiar), entretanto, ele é esperto o suficiente para colocar no
centro da sua produção, o fator que realmente se mostra infinitamente mais
interessante –a relação de cautelosa descoberta e gratificante evolução afetiva
entre Leigh Anne e Big Mike construída com amor genuíno.
Esse detalhe não apenas
transforma este grande sucesso de bilheteria num daqueles filmes ocasionais no cinema
americano em que se registra uma saga familiar de superação e perseverança (tão
mais válido quando é baseado em um fato real, como é o caso aqui), como também
se mostra o palco perfeito para a performance a um só tempo enérgica e graciosa
de Sandra Bullock, seu melhor trabalho (pelo menos, até ela estrelar a
obra-prima “Gravidade”), o que valeu a ela o Oscar de Melhor Atriz.
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