quinta-feira, 19 de outubro de 2017

E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?

Os Irmãos Coen já fizeram de quase tudo: Homenagens ao cinema (“Barton Fink-Delírios de Hollywood” e recentemente “Ave, César”); homenagens à gêneros muito específicos (o filme gangster com “Acerto Final”, o film noir com “Gosto de Sangue”, o faroeste com “Bravura Indômita”); cult-movies (“O Grande Lebowski”); ganhadores do Oscar (“Fargo” e, sobretudo “Onde Os Fracos Não Têm Vez”) e até mesmo obras inclassificáveis (“Queime Depois de Ler” e “Um Homem Sério”).
Mas, eis que nessa ânsia por renovação e por jamais se prender numa fórmula, eles decidiram fazer também uma versão moderna do clássico conto da Grécia Antiga “A Odisséia”, assim como também uma produção musical: Tudo num só filme!
Além de ser isso tudo, “E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?” é, de certa maneira, também uma homenagem ao cinema, como será possível perceber mais a frente.
Durante o período da Grande Depressão norte-americana (década de 1930), o presidiário Everett Ulisses McGill (George Clooney, em espetacular paródia do astro antigo Clark Gable), junto de seus dois amigos, Delmar (Tim Blake Nelson, sensacional) e Pete (John Turturro), resolve fugir dos trabalhos forçados da prisão estadual e toma a longa estrada para casa, disposto a voltar para os braços de sua relutante mulher, Penny (Holly Hunter) –no quê já fica perfeitamente perceptível a transposição de “A Odisséia” de Omero (cujo protagonista se chama Ulisses!) para esta versão bem-humorada e deliciosamente desmiolada que se vale dessa ambientação inusitadamente norte-americana dessa saga mitológica para fazer uma esperta sondagem das raízes provincianas em muitas das características, positivas e negativas, dos EUA.
Como vem a afirmar as palavras proféticas de um senhor no começo do filme, a viagem dos três será repleta de contratempos e distrações, além da constante perseguição da polícia –na forma de uma presença espectral e diabólica que parece ter um dom sobrenatural para encontrá-los.
Eles encontrarão Tommy Johnson (Chris Thomas King), um jovem tocador de banjo –numa referência ao filme “A Encruzilhada”, talvez? –que afirma ter vendido a alma ao diabo em troca de talento ao dedilhar o instrumento (junto dele, eles cantam uma música numa rádio local que, no percurso de sua fuga, vai se tornar uma das mais tocadas da estação!); como o próprio Ulisses, encontrarão sereias –ou melhor, lavadeiras de rio! –cuja voz melodiosa será capaz de enfeitiçá-los; além de um ciclope (John Goodman) que os conduzirá à encrencas envolvendo a Ku Klux Khan (numa seqüência musical que se atreve a estabelecer analogias propositais ou não entre as manifestações nazistas e os grandes musicais da Antiga Hollywood) e até mesmo a folclórica e torturada figura do ladrão de bancos Baby Face Nelson (Michael Badalucco).
Tirando de letra a difícil tarefa estabelecida pelo conceito desafiador de conceber um musical em termos tão inusitados (não só a trilha sonora é inebriante como o elenco arrasa nas seqüências cantadas), este belo trabalho dos sempre talentosos irmãos Coen marca a primeira dentre as inúmeras colaborações frutíferas com o igualmente talentoso astro George Clooney, que se mostra extremamente à vontade (ele chegou a ganhar o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical) trabalhando ao lado de seus já habituais colaboradores: Holly Hunter, John Goodman, John Turturro e Charles Durning, todos já fizeram filmes com os Coen antes.

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