Antes de se tornar o astro popular e milionário
que é hoje graças ao “Homem de Ferro” e a muitos filmes da Marvel Studios que
vieram depois dele, Robert Downey Jr. esteve em alguns projetos inusitados que
foram responsáveis diretos por evidenciar seu inesgotável talento e tirá-lo de
um certo ostracismo ao qual ele foi condenado durante a década de 1990 depois
de várias prisões e escândalos envolvendo drogas e prostitutas.
Um deles certamente foi “Crimes de Um Detetive”
ao lado de “Beijos e Tiros”.
Consideravelmente menos comercial do que
“Beijos e Tiros”, este “Crimes de Um Detetive” foi dirigido por Keith Gordon
que havia, anos antes, realizado a intrigante mescla de história de amor,
conspiração política e suspense mediúnico chamado “Amor Maior Que A Vida”,
estrelado pela estonteante Jennifer Connelly.
Percebe-se aí, o gosto incomum em seu estilo
que o leva a experimentar as junções de gêneros que, em princípio, parecem
incompatíveis –e cuja natureza estranha dos projetos resultam justamente dessa
incompatibilidade.
Aqui, Keith Gordon realiza uma inclinação ainda
maior para o aspecto autoral, o quê tira de seu filme a acessibilidade ao
grande público: Ele faz um drama, carregado em tintas de humor negro, psicologia,
elementos de film noir e de literatura pulp, e arremata tudo numa roupagem que
termina como musical (!).
Um turbilhão de esquizofrenia e confusão de
realidade que acomete seu protagonista.
Engolido por sua angústia e
perplexidade, Dan Dark (Robert Downey Jr. dando um show!), um escritor
mal-humorado, acaba penando numa clínica psiquiátrica justamente por manifestar
fisicamente os males que afligem sua mente (como terríveis irritações na pele).
Ele convive ainda com personagens oriundos das tramas policiais de seus livros
(a femme fatale vivida por Robin Wright, intérprete também de sua esposa, o
bandidão traiçoeiro interpretado por Jeremy Northam, e o assassino a serviço de
gangsteres personificado por Adrien Brody), sobretudo um certo "detetive
cantor", talvez um reflexo de instintos cínicos e agressivos que ele
preserva dentro de si, segundo seu psicanalista (interpretado por um Mel Gibson
quase irreconhecível). Esse misto estranho e irregular parece visar uma
percepção desconcertante no expectador a exemplo do que se passa com o personagem
principal, mas resulta num trabalho que frustra, por sua indefinição
premeditada, sistematicamente as expectativas do público –a graça é deixada de
lado quando parece prestes a virar comédia, a angústia não se estabelece o
suficiente para percebermos algum drama, a tensão não dura para que se perceba
algum suspense, e as cenas musicais, intercalando esses momentos, só despertam
estranheza –sua tentativa de emendar tantas gêneros de abordagens diferentes
compromete assim sua qualidade. O quê é indiscutível neste filme é o talento de
Robert Downey Jr. absolutamente fantástico e competente no desenvolvimento de
seu difícil personagem, seja na desenvoltura para com o humor ou no
comprometimento para com o drama.
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