sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Crimes de Um Detetive

Antes de se tornar o astro popular e milionário que é hoje graças ao “Homem de Ferro” e a muitos filmes da Marvel Studios que vieram depois dele, Robert Downey Jr. esteve em alguns projetos inusitados que foram responsáveis diretos por evidenciar seu inesgotável talento e tirá-lo de um certo ostracismo ao qual ele foi condenado durante a década de 1990 depois de várias prisões e escândalos envolvendo drogas e prostitutas.
Um deles certamente foi “Crimes de Um Detetive” ao lado de “Beijos e Tiros”.
Consideravelmente menos comercial do que “Beijos e Tiros”, este “Crimes de Um Detetive” foi dirigido por Keith Gordon que havia, anos antes, realizado a intrigante mescla de história de amor, conspiração política e suspense mediúnico chamado “Amor Maior Que A Vida”, estrelado pela estonteante Jennifer Connelly.
Percebe-se aí, o gosto incomum em seu estilo que o leva a experimentar as junções de gêneros que, em princípio, parecem incompatíveis –e cuja natureza estranha dos projetos resultam justamente dessa incompatibilidade.
Aqui, Keith Gordon realiza uma inclinação ainda maior para o aspecto autoral, o quê tira de seu filme a acessibilidade ao grande público: Ele faz um drama, carregado em tintas de humor negro, psicologia, elementos de film noir e de literatura pulp, e arremata tudo numa roupagem que termina como musical (!).
Um turbilhão de esquizofrenia e confusão de realidade que acomete seu protagonista.
Engolido por sua angústia e perplexidade, Dan Dark (Robert Downey Jr. dando um show!), um escritor mal-humorado, acaba penando numa clínica psiquiátrica justamente por manifestar fisicamente os males que afligem sua mente (como terríveis irritações na pele). Ele convive ainda com personagens oriundos das tramas policiais de seus livros (a femme fatale vivida por Robin Wright, intérprete também de sua esposa, o bandidão traiçoeiro interpretado por Jeremy Northam, e o assassino a serviço de gangsteres personificado por Adrien Brody), sobretudo um certo "detetive cantor", talvez um reflexo de instintos cínicos e agressivos que ele preserva dentro de si, segundo seu psicanalista (interpretado por um Mel Gibson quase irreconhecível). Esse misto estranho e irregular parece visar uma percepção desconcertante no expectador a exemplo do que se passa com o personagem principal, mas resulta num trabalho que frustra, por sua indefinição premeditada, sistematicamente as expectativas do público –a graça é deixada de lado quando parece prestes a virar comédia, a angústia não se estabelece o suficiente para percebermos algum drama, a tensão não dura para que se perceba algum suspense, e as cenas musicais, intercalando esses momentos, só despertam estranheza –sua tentativa de emendar tantas gêneros de abordagens diferentes compromete assim sua qualidade. O quê é indiscutível neste filme é o talento de Robert Downey Jr. absolutamente fantástico e competente no desenvolvimento de seu difícil personagem, seja na desenvoltura para com o humor ou no comprometimento para com o drama.

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