sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Ratatouille

Há tantas mensagens subliminares magistrais em “Ratatouille” que, em princípio, é difícil dizer qual a mais pertinente: Há a observação acerca da arte e de seu poder transformador –seja na própria condição inacreditável do ratinho Remy que alimenta o sonho improvável de ser gourmet (chefe de cozinha), em função de suas grandes habilidades culinárias, seja no fabuloso personagem de Anton Ego (que parece ser um vilão, mas é um dos mais ternos personagens conforme a narrativa progride) –há, também a admirável produção que, como animação, surpreende por sua minúcia, pela forma com que emprega carinho e zelo a cada detalhe, desde as características de cada personagem –mesmo aqueles que têm menos tempo de filme –até os pormenores da cozinha e do restaurante onde toda a farsa se desenrola.
Sim, porque é disso que “Ratatouille” se trata: De uma farsa deliciosa onde os personagens –como manda o clichê –devem esconder do mundo e dos personagens coadjuvantes a verdade por trás do que encenam.
Eu não escondo meu apreço por filmes assim, que vão desde o brilhante “Tootsie”, até o divertido “Uma Babá Quase Perfeita” passando por “Cyrano de Bergerac” e tantas outras variações.
Longe do lugar onde possa exercer seu dom extraordinário –e, além de tudo, prejudicado pelo fato de ser um rato! –Remy se perde de sua família quando um acidente expõe sua colônia, e vai parar em um famoso restaurante onde enfim encontra a oportunidade de mostrar seu talento, ainda que através de um desajeitado ajudante de cozinheiro, Linguini.
Manipulando os movimentos de Linguini de dentro de seu chapéu (ou seja lá como se chamam aquelas coisas que chefs de cozinha usam...), Remy pode valer-se de suas capacidades culinárias prodigiosas, ainda que todo o crédito recaia sobre Linguini.
Juntos, os dois buscam manter essa farsa ainda que as circunstâncias dificultem cada vez mais.
Regendo uma história que não se resume, de forma alguma a essa limitada sinopse (a premissa se divide em sub-tramas ágeis que englobam a relação de Remy e sua família, o relutante romance de Linguini e a jovem assistente do chef, Colete, as intrincadas questões hereditárias do restaurante, e inúmeras circunstâncias de ressonância moral), o diretor Brad Bird concebe, neste primor de animação, uma obra ainda mais calorosa, inteligente e completa do que o já excelente "Os Incríveis" (também ele realizado na Pixar), aprimorando ainda mais sua inteligência narrativa e o modo sensacional como elabora seus personagens, alguns dos mais bem construídos dos desenhos da Pixar –o quê está longe de ser pouca coisa!

Nenhum comentário:

Postar um comentário