Há tantas mensagens subliminares magistrais em
“Ratatouille” que, em princípio, é difícil dizer qual a mais pertinente: Há a
observação acerca da arte e de seu poder transformador –seja na própria
condição inacreditável do ratinho Remy que alimenta o sonho improvável de ser
gourmet (chefe de cozinha), em função de suas grandes habilidades culinárias,
seja no fabuloso personagem de Anton Ego (que parece ser um vilão, mas é um dos
mais ternos personagens conforme a narrativa progride) –há, também a admirável
produção que, como animação, surpreende por sua minúcia, pela forma com que
emprega carinho e zelo a cada detalhe, desde as características de cada
personagem –mesmo aqueles que têm menos tempo de filme –até os pormenores da
cozinha e do restaurante onde toda a farsa se desenrola.
Sim, porque é disso que “Ratatouille” se trata:
De uma farsa deliciosa onde os personagens –como manda o clichê –devem esconder
do mundo e dos personagens coadjuvantes a verdade por trás do que encenam.
Eu não escondo meu apreço por filmes assim, que
vão desde o brilhante “Tootsie”, até o divertido “Uma Babá Quase Perfeita”
passando por “Cyrano de Bergerac” e tantas outras variações.
Longe do lugar onde possa exercer seu dom
extraordinário –e, além de tudo, prejudicado pelo fato de ser um rato! –Remy se
perde de sua família quando um acidente expõe sua colônia, e vai parar em um
famoso restaurante onde enfim encontra a oportunidade de mostrar seu talento,
ainda que através de um desajeitado ajudante de cozinheiro, Linguini.
Manipulando os movimentos de Linguini de dentro
de seu chapéu (ou seja lá como se chamam aquelas coisas que chefs de cozinha
usam...), Remy pode valer-se de suas capacidades culinárias prodigiosas, ainda
que todo o crédito recaia sobre Linguini.
Juntos, os dois buscam manter essa farsa ainda
que as circunstâncias dificultem cada vez mais.
Regendo uma história que
não se resume, de forma alguma a essa limitada sinopse (a premissa se divide em
sub-tramas ágeis que englobam a relação de Remy e sua família, o relutante
romance de Linguini e a jovem assistente do chef, Colete, as intrincadas
questões hereditárias do restaurante, e inúmeras circunstâncias de ressonância
moral), o diretor Brad Bird concebe, neste primor de animação, uma obra ainda
mais calorosa, inteligente e completa do que o já excelente "Os
Incríveis" (também ele realizado na Pixar), aprimorando ainda mais sua
inteligência narrativa e o modo sensacional como elabora seus personagens,
alguns dos mais bem construídos dos desenhos da Pixar –o quê está longe de ser
pouca coisa!
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