A aparente simplicidade desta premissa é
somente o primeiro artifício por meio do qual o grande diretor Alfonso Cuarón
consegue driblar as expectativas do público e conceber uma obra surpreendente.
Definidos por aquele fulgor por sexo e aquela
euforia por liberdade que tanto caracteriza a adolescência, os jovens de classe
média do México Julio e Tenoch (Gael Garcia Benal e Diego Luna, em interpretações
viscerais) enxergam na tentadora e madura Luisa (a exuberante Maribel Verdú),
casada com o primo de Tenoch, uma oportunidade para dormir não com as mesmas
namoradinhas adolescentes de sempre, mas com uma mulher de verdade.
Quando ela aceita –impelida pela indignação de
uma traição do marido –ir com eles para a viagem à uma praia paradisíaca
chamada “Boca do Céu” (que, na realidade, os dois inventaram de última hora),
eles julgam que, em algum momento, será isso que conseguirão. Mas, a viagem irá
revelar muitas outras coisas.
Ao expectador, irá revelar o talento prodigioso
de Alfonso Cuarón –que com este filme saltou da promessa auspiciosa de
qualidade no lúdico “A Princesinha”, para uma excelência artística que só se
potencializou a cada novo projeto –cuja construção inventiva de cenas e a
notável estrutura do roteiro prescinde orçamentos vultuosos (o cenário mexicano
não é nada diferente do que se vê nas estradas do Brasil).
Aos mais atentos, irá revelar também um México
que passa quase despercebido aos jovens protagonistas tão extasiados nos
detalhes fugazes, bons e ruins, de sua própria jornada que não reparam a
situação periclitante e transitória de seu país em termos políticos e sociais que Cuarón tão bem registra em pequenos e
ocasionais detalhes pertinentes.
E aos personagens, irá
revelar algumas verdades acerca deles mesmos: As razões não verbalizadas e não
reconhecidas pelas quais Julio e Tenoch nutrem entre si uma amizade e uma
lealdade tão profunda, e a real motivação de Luisa, na forma de um segredo que
ela leva consigo –esses e outros detalhes enriquecem este filme brilhante, onde
a estrutura de roteiro se presta, num gesto gigante de humanismo e
espirituosidade, a vislumbrar o quê foi e o quê será acerca de cada
coadjuvante, cada pessoa, cada elemento que cruza o caminho de seus protagonistas,
num recurso que mantém perene a memória desta obra no coração do público.
Nenhum comentário:
Postar um comentário