quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Os Excêntricos Tenenbaums

Mais uma ode à estranheza, aos marginalizados, aos tipos bizarros que Wes Anderson tanto aprecia enaltecer. Entretanto, há sempre uma particularidade nas singulares criaturas que o diretor gosta de transformar em centros de suas narrativas: Deles parte um ímpeto irreprimível para criar.
Assim é Max Fischer, o aluno fracassado, porém, entusiasta e incansável de “Rushmore”; ou o pesquisador de moral duvidosa, mas de inabalável gosto pelo desconhecido em “A Vida Marinha de Steve Sizou”.
Todos –e outros mais –buscam no intelecto uma fuga para as limitações da vida.
Assim, como os Tenenbauns.
Realizado logo após “Rushmore” ter surpreendido o mundo, “Os Excêntricos Tenenbauns” fala sobre uma família de crianças superdotadas e de como essa condição se transfigurou, na idade adulta, mais como uma sina do que como um dom. A figura paterna –aqui representada pelo espetacular personagem de Royal Tenenbaun, majestosamente vivido por Gene Hackman –surge como o catalisador principal das mazelas, mas a exemplo dos outros protagonistas de Anderson, ele é também um amálgama carinhoso, carismático e encantador de inúmeras falhas e defeitos humanos.
Longe da família por motivos que não tardam a ficar evidentes –como suas recorrentes falhas de caráter –Royal descobriu que tem câncer, ele deseja então reunir-se com sua ex-esposa (Angélica Hunston), agora de casamento marcado com o novo namorado (Danny Glover, hilário), e com seus filhos, o metódico Chas (Ben Stiller) cuja obsessão minimalista por segurança contamina seus filhos pequenos; a escritora prodígio Margot (Gwyneth Paltron), mesmerizada num casamento completamente apático com seu ex-professor (Bill Murray); e Richie (Luke Wilson) que exilou-se numa longa viagem de cargueiro pelo mar devido à atração incestuosa que nutre desde sempre por Margot (!).
Além deles, há também a ocasional presença de Eli Cash (Owen Wilson), amigo inseparável dos Tenenbauns desde a infância.
A reunião de familiares tão idiossincráticos rende um filme em si incomum, como é do agrado de seu realizador, um perspicaz observador das peculiaridades insignificantes que o olhar ordinário deixa passar.
Ao justapor duas facetas completamente diferentes da família –uma usina de neuroses e, ao mesmo tempo, um refúgio de empatia e amor –e vislumbrar por meio disso uma obra cinematográfica de notável ressonância emocional, o diretor Wes Anderson corrobora também com uma premissa que pareceu não conseguir deixar de lado: A família, e os esforços de seus membros em continuar encontrando um laço e uma unidade. Afinal de contas, vem a ser este enredo mais uma vez o foco de Wes Anderson no irregular e perdido “Viagem À Darjeling”, também ele com Angélica Huston.

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