Mais uma ode à estranheza, aos marginalizados,
aos tipos bizarros que Wes Anderson tanto aprecia enaltecer. Entretanto, há
sempre uma particularidade nas singulares criaturas que o diretor gosta de
transformar em centros de suas narrativas: Deles parte um ímpeto irreprimível
para criar.
Assim é Max Fischer, o aluno fracassado, porém,
entusiasta e incansável de “Rushmore”; ou o pesquisador de moral duvidosa, mas
de inabalável gosto pelo desconhecido em “A Vida Marinha de Steve Sizou”.
Todos –e outros mais –buscam no intelecto uma
fuga para as limitações da vida.
Assim, como os Tenenbauns.
Realizado logo após “Rushmore” ter surpreendido
o mundo, “Os Excêntricos Tenenbauns” fala sobre uma família de crianças
superdotadas e de como essa condição se transfigurou, na idade adulta, mais
como uma sina do que como um dom. A figura paterna –aqui representada pelo
espetacular personagem de Royal Tenenbaun, majestosamente vivido por Gene
Hackman –surge como o catalisador principal das mazelas, mas a exemplo dos
outros protagonistas de Anderson, ele é também um amálgama carinhoso,
carismático e encantador de inúmeras falhas e defeitos humanos.
Longe da família por motivos que não tardam a
ficar evidentes –como suas recorrentes falhas de caráter –Royal descobriu que
tem câncer, ele deseja então reunir-se com sua ex-esposa (Angélica Hunston),
agora de casamento marcado com o novo namorado (Danny Glover, hilário), e com
seus filhos, o metódico Chas (Ben Stiller) cuja obsessão minimalista por segurança
contamina seus filhos pequenos; a escritora prodígio Margot (Gwyneth Paltron),
mesmerizada num casamento completamente apático com seu ex-professor (Bill
Murray); e Richie (Luke Wilson) que exilou-se numa longa viagem de cargueiro
pelo mar devido à atração incestuosa que nutre desde sempre por Margot (!).
Além deles, há também a ocasional presença de
Eli Cash (Owen Wilson), amigo inseparável dos Tenenbauns desde a infância.
A reunião de familiares tão idiossincráticos
rende um filme em si incomum, como é do agrado de seu realizador, um perspicaz
observador das peculiaridades insignificantes que o olhar ordinário deixa
passar.
Ao justapor duas facetas
completamente diferentes da família –uma usina de neuroses e, ao mesmo tempo,
um refúgio de empatia e amor –e vislumbrar por meio disso uma obra
cinematográfica de notável ressonância emocional, o diretor Wes Anderson
corrobora também com uma premissa que pareceu não conseguir deixar de lado: A
família, e os esforços de seus membros em continuar encontrando um laço e uma
unidade. Afinal de contas, vem a ser este enredo mais uma vez o foco de Wes
Anderson no irregular e perdido “Viagem À Darjeling”, também ele com Angélica
Huston.
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