A filmografia de Alexander Payne é toda ela
dedicada a um paradoxo: Personagens comuns cujas idiossincrasias registradas
fazem deles seres incomuns. O homem normal, captado numa ótica tão próxima e
pessoal, que suas peculiaridades se revelam visíveis.
A partir desse princípio, Payne observou o
cosmo estudantil sob um viés político (“Eleição”, uma de suas obras mais
divertidas), refletiu sobre o papel do indivíduo manipulável na propaganda
ideológica (“Ruth Em Questão”, um filme que merecia ser mais conhecido), e
dissertou sobre as perspectivas de uma vida passiva e medíocre com o bônus de
um astro do calibre de Jack Nicholson (“As Confissões de Schmidt”).
Depois dessa seqüência de trabalhos, ele
realizou “Sideways-Entre Umas e Outras” que não chega a fugir muito de seu
filme anterior: Os personagens vividos por Paul Giamatti e Thomas Halden Church
não diferem muito –nas características que ostentam e na angústia que escondem
–do deprimido personagem de Nicholson.
Eles são dois amigos, homens de meia-idade, um
deles, Jack (o personagem de Halden Church) está prestes a se casar, o outro,
Miles (Giamatti) é professor universitário e ao que parece, solteiro
compulsivo. Juntos, eles vão a uma vinícola na cidade de Santa Bárbara,
dispostos a comemorar o iminente casamento, e a saborear a única coisa que
aparentemente têm em comum: o gosto pelo vinho. É quase uma despedida de
solteiro disfarçada, e Jack não esconde sua vontade de farrear a despeito de
Miles, com sua irrequieta carapuça de especialista, preferir a reclusão
confortável da degustação longe de pessoas desconhecidas.
Lá pelas tantas, eles encontram Stephanie
(Sandra Oh) e Maya (a maravilhosa Virginia Madsen), duas garotas com quem ensaiam
um relacionamento casual.
Mas, a relação entre Jack e Stephanie padece da
falta de verdade (ele está, afinal, de casamento marcado e ela, esperançosa,
não sabe disso), enquanto que a de Miles e Maya, por sua vez, padece pelo
excesso de verdade (ele é anti-social há tanto tempo que não consegue não
sê-lo, por mais que ela lhe inspire fascínio real).
Com esta crônica sobre o homem moderno, ora
angustiada, ora cômica, bem ao estilo que lhe caracteriza, o diretor e
roteirista Alexander Payne conquistou seu primeiro Oscar de Melhor Roteiro
Adaptado. Apesar de ser um realizador de comédias, Payne faz obras que resultam
quase deprimentes na abordagem de forte proximidade realista e no seu interesse
singular por minúcias comportamentais e circunstâncias atípicas.
Este aqui, contudo, é um de seus mais
equilibrados trabalhos.
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