sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Para Maiores

Eis um filme que, em sua incontornável ruindade, é um caso para estudo. Afinal de contas, ainda assim, foi reunido, ao longo de seus esquetes, não só um elenco de fazer inveja a qualquer superprodução, mas também um time de diretores que se responsabilizam por cada, digamos, episódio que vai de nomes notáveis como Peter Farrelly (aqui arriscando a direção sem seu irmão Bobby), James Gun (de “Guardiões da Galáxia”), Steve Carr (de “Segurança de Shopping”), Griffin Dunne (astro de “Depois de Horas”, de Scorsese e diretor de “Da Magia À Sedução”), Bret Ratner (de “A Hora do Rush” e “X-Men O Confronto Final”) e outros! –e todos, sem exceção, passam uma tremenda vergonha em todas as seqüências deste filme cujo nível de mau gosto chega às raias do inacreditável.
Reza a lenda, que o produtor Charles B. Wessler (realizador dos filmes dos Irmãos Farrelly) conseguiu arregimentar tantos atores graças à sua influência e a um curta-metragem previamente gravado em 2009 com Hugh Jackman e Kate Winslet –quando o filme foi lançado em 2013, tal curta, por sinal, foi incluído como o trecho que inicia esta sucessão de absurdos intermináveis!
É uma antologia cômica calcada nas características pesadíssimas da comédia vulgar juvenil que aflorou nos anos 1980 e que ganhou, com as décadas que vieram, mais e mais escatologia. Uma exaltação do politicamente incorreto.
Sua trama une engenhosidade e grosseria de forma desconcertante: A fim de pregar uma peça de 1º de abril num garotinho metido a hacker, dois adolescentes pra lá de imbecis lhe distraem com a missão de procurar um filme na internet, difícil de achar por ter sido banido, cujo conteúdo é um mistério –o "Movie 43", que dá o título original à produção.
O problema é que durante a busca o tal filme revela-se real, e nos sucessivos vídeos que eles vão descobrindo surgem tramas curtas que, de uma maneira geral, destroem com o modo de vida norte-americano com um humor politicamente incorreto radical até mesmo para os padrões extremos que o gênero tem tomado atualmente (como "Ted").
No primeiro esquete –supostamente aquele que iniciou tudo! –uma moça (Kate Winslet) vai jantar em um restaurante com um solteirão charmoso e boa-pinta (Hugh Jackman), para descobrir, do pior jeito possível, porque ele continua solteiro: De alguma forma ridícula e mirabolante, ele possui os testículos no pescoço (acredite, isso já dá uma boa idéia do nível extremo de absurdo, escracho e nojeira que se seguirá a partir daqui!).
Noutro, o casal na vida real Naomi Watts e Liev Schreiber vive a mãe e o pai de um rapaz educado em casa –como é costume em alguns locais do EUA –entretanto, a fim de proporcionar ao filho uma educação com todas as variações de uma experiência escolar completa, eles decidem submeter seu filho até mesmo ao bullying impiedoso que seus colegas praticariam: Eles organizam festas e não o convidam (!), seu pai exerce forte tortura psicológica nas aulas de educação física (!), e sua mãe, na falta de outra, flerta com ele para ensinar-lhe as minúcias da rejeição (!!). O resultado é ultrajante.
Numa adaptação mambembe e debochada da “Liga daJustiça”, anos antes do filme de Zack Snyder e Joss Whedon, vemos em um restaurante, Robin (Justin Long) tentar se dar bem num encontro com a Supergirl (Kristen Bell), apesar das constrangedoras intromissões do inconveniente Batman (Jason Sudeikis) e, mais tarde, da espalhafatosa Mulher Maravilha (Leslie Bibb) e de uma neurótica Lois Lane (Uma Thurman).
Já, o casal formado por Chris Pratt e Anna Faris resolve temperar sua vida sexual quando a esposa faz uma inesperada proposta ao marido: Defecar nela (!!!).
A preparação para esse momento tão... especial (!) envolve o uso de um laxante poderoso que vai colocar o marido numa situação aflitiva.
Também em um encontro marcado num restaurante, Halle Berry e o comediante Stephen Merchant resolvem brincar de ‘desafio ou conseqüência’, o quê os leva a atitudes inacreditáveis.
Richard Gere faz o executivo de uma empresa cujo produto mais rentável, o I-Babe (um dispositivo que grava músicas em tamanho real e formato de uma mulher nua!) está levando compradores adolescentes à mutilação (!) por uma razão bem peculiar: No lugar onde seria a vagina fica uma hélice para ventilação (!!!).
Num dos episódios mais estranhos e non-sense, Emma Stone faz uma namorada impaciente e incompreensível disposta a discutir a relação com o namorado (Kieran Culkin), mesmo que seja na caixa de supermercado onde ele trabalha (!).
Um encontro catastrófico é o que experimenta a jovem Chloe Grace Moretz ao ir à casa do namoradinho e lá passar pela infelicidade de ter sua primeira menstruação (!), para o pânico de seu irmão mais velho, Christopher Mintz-Plasse.
Numa cabana, Johnny Knoxville e Seann William Scott encontram um ‘leprechaum’ –num registro deliberadamente destoante de efeitos visuais, do ator Gerard Butler –que não é exatamente aquilo que eles esperavam.
Um time de basquete composto por negros recebe de seu treinador, Terrence Howard, uma instrução bastante simples (e racista) para conseguir ganhar do time composto por brancos.
E por fim, no episódio escondido nos créditos finais, Elizabeth Banks tenta manter a harmonia de seu relacionamento com o namorado dos sonhos, Josh Duhamel, mas isso é perturbado pelo gato dele (um CG ainda mais porco que o do ‘leprechaum’), uma versão distorcida, psicopata e homossexual de Garfield (!!).

É bem provável que hajam até mesmo outros episódios além desses que consegui lembrar, mas a experiência de passar por este filme é tão desconcertante e perturbadora que vou ficar só nestes mesmos!

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