Eis um filme que, em sua incontornável
ruindade, é um caso para estudo. Afinal de contas, ainda assim, foi reunido, ao
longo de seus esquetes, não só um elenco de fazer inveja a qualquer
superprodução, mas também um time de diretores que se responsabilizam por cada,
digamos, episódio que vai de nomes notáveis como Peter Farrelly (aqui
arriscando a direção sem seu irmão Bobby), James Gun (de “Guardiões da
Galáxia”), Steve Carr (de “Segurança de Shopping”), Griffin Dunne (astro de
“Depois de Horas”, de Scorsese e diretor de “Da Magia À Sedução”), Bret Ratner
(de “A Hora do Rush” e “X-Men O Confronto Final”) e outros! –e todos, sem
exceção, passam uma tremenda vergonha em todas as seqüências deste filme cujo
nível de mau gosto chega às raias do inacreditável.
Reza a lenda, que o produtor Charles B. Wessler
(realizador dos filmes dos Irmãos Farrelly) conseguiu arregimentar tantos
atores graças à sua influência e a um curta-metragem previamente gravado em
2009 com Hugh Jackman e Kate Winslet –quando o filme foi lançado em 2013, tal
curta, por sinal, foi incluído como o trecho que inicia esta sucessão de
absurdos intermináveis!
É uma antologia cômica calcada nas
características pesadíssimas da comédia vulgar juvenil que aflorou nos anos
1980 e que ganhou, com as décadas que vieram, mais e mais escatologia. Uma
exaltação do politicamente incorreto.
Sua trama une engenhosidade e grosseria de
forma desconcertante: A fim de pregar uma peça de 1º de abril num garotinho
metido a hacker, dois adolescentes pra lá de imbecis lhe distraem com a missão
de procurar um filme na internet, difícil de achar por ter sido banido, cujo
conteúdo é um mistério –o "Movie 43", que dá o título original à
produção.
O problema é que durante a busca o tal filme
revela-se real, e nos sucessivos vídeos que eles vão descobrindo surgem tramas
curtas que, de uma maneira geral, destroem com o modo de vida norte-americano
com um humor politicamente incorreto radical até mesmo para os padrões extremos
que o gênero tem tomado atualmente (como "Ted").
No primeiro esquete –supostamente aquele que
iniciou tudo! –uma moça (Kate Winslet) vai jantar em um restaurante com um
solteirão charmoso e boa-pinta (Hugh Jackman), para descobrir, do pior jeito
possível, porque ele continua solteiro: De alguma forma ridícula e mirabolante,
ele possui os testículos no pescoço (acredite, isso já dá uma boa idéia do
nível extremo de absurdo, escracho e nojeira que se seguirá a partir daqui!).
Noutro, o casal na vida real Naomi Watts e Liev
Schreiber vive a mãe e o pai de um rapaz educado em casa –como é costume em
alguns locais do EUA –entretanto, a fim de proporcionar ao filho uma educação
com todas as variações de uma experiência escolar completa, eles decidem
submeter seu filho até mesmo ao bullying impiedoso que seus colegas
praticariam: Eles organizam festas e não o convidam (!), seu pai exerce forte
tortura psicológica nas aulas de educação física (!), e sua mãe, na falta de
outra, flerta com ele para ensinar-lhe as minúcias da rejeição (!!). O
resultado é ultrajante.
Numa adaptação mambembe e debochada da “Liga daJustiça”, anos antes do filme de Zack Snyder e Joss Whedon, vemos em um
restaurante, Robin (Justin Long) tentar se dar bem num encontro com a Supergirl
(Kristen Bell), apesar das constrangedoras intromissões do inconveniente Batman
(Jason Sudeikis) e, mais tarde, da espalhafatosa Mulher Maravilha (Leslie Bibb)
e de uma neurótica Lois Lane (Uma Thurman).
Já, o casal formado por Chris Pratt e Anna
Faris resolve temperar sua vida sexual quando a esposa faz uma inesperada
proposta ao marido: Defecar nela (!!!).
A preparação para esse momento tão... especial
(!) envolve o uso de um laxante poderoso que vai colocar o marido numa situação
aflitiva.
Também em um encontro marcado num restaurante,
Halle Berry e o comediante Stephen Merchant resolvem brincar de ‘desafio ou conseqüência’,
o quê os leva a atitudes inacreditáveis.
Richard Gere faz o executivo de uma empresa
cujo produto mais rentável, o I-Babe (um dispositivo que grava músicas em
tamanho real e formato de uma mulher nua!) está levando compradores
adolescentes à mutilação (!) por uma razão bem peculiar: No lugar onde seria a
vagina fica uma hélice para ventilação (!!!).
Num dos episódios mais estranhos e non-sense,
Emma Stone faz uma namorada impaciente e incompreensível disposta a discutir a
relação com o namorado (Kieran Culkin), mesmo que seja na caixa de supermercado
onde ele trabalha (!).
Um encontro catastrófico é o que experimenta a
jovem Chloe Grace Moretz ao ir à casa do namoradinho e lá passar pela
infelicidade de ter sua primeira menstruação (!), para o pânico de seu irmão
mais velho, Christopher Mintz-Plasse.
Numa cabana, Johnny Knoxville e Seann William
Scott encontram um ‘leprechaum’ –num registro deliberadamente destoante de
efeitos visuais, do ator Gerard Butler –que não é exatamente aquilo que eles
esperavam.
Um time de basquete composto por negros recebe
de seu treinador, Terrence Howard, uma instrução bastante simples (e racista)
para conseguir ganhar do time composto por brancos.
E por fim, no episódio escondido nos créditos
finais, Elizabeth Banks tenta manter a harmonia de seu relacionamento com o
namorado dos sonhos, Josh Duhamel, mas isso é perturbado pelo gato dele (um CG
ainda mais porco que o do ‘leprechaum’), uma versão distorcida, psicopata e
homossexual de Garfield (!!).
É bem provável que hajam até mesmo outros
episódios além desses que consegui lembrar, mas a experiência de passar por
este filme é tão desconcertante e perturbadora que vou ficar só nestes mesmos!
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