O faroeste “Bone Tomahawk” –no Brasil, “Rastro
de Maldade” –já era um senhor cartão de apresentação para o diretor e
roteirista S. Craig Zahler; violento, cuidadosamente dedicado à construção de
sua premissa, primoroso na atenção ao desempenho de seu elenco e criterioso na
composição de suas imagens –que não raro desembocavam numa violência gráfica
poucas vezes mostrada na tela –seu trabalho trazia diversas características de
cult-movie.
Isso novamente vem a se repetir neste seu
projeto seguinte, onde Zahler aborda com seu estilo forte e peculiar um novo
gênero, o drama de prisão.
Ainda que o filme demore bastante para chegar
até lá.
Vindo daquela rara categoria de diretores que
depõem um tempo considerável de filme na construção de seu enredo, Zahler –tal
e qual, Michael Cimino em seu “O Franco Atirador”, por exemplo –ocupa toda a
primeira hora para estabelecer as motivações bem fundamentadas de seu
protagonista.
Normalmente associado à comédias como “Penetras
Bons de Bico” ou “Separados Pelo Casamento”, o ator Vince Vaughn, com sua
compleição agigantada e sua expressão impassível, faz jus ao personagem
principal, Bradley Thomas, um cara suburbano, grandalhão, propenso à violência
e essencialmente desenvolto com ela (ninguém o supera numa luta), mas dono de
princípios muito sólidos.
Casado com Lauren (Jennifer Carpenter, de “O
Exorcismo de Emily Rose”), ele decide, após superar uma injusta demissão e um
caso extraconjugal da esposa, ceder às propostas do amigo traficante Gil (Marc
Blucas) e tornar-se uma espécie de capanga de confiança a fim de obter para sua
mulher –que está grávida –uma qualidade de vida que o trabalho honesto não
proporcionou. Como é de praxe numa circunstância em que um personagem adere à
criminalidade, logo algo dará terrivelmente errado; a diferença são os
alicerces dramáticos construídos com parcimônia e zelo pelo diretor –quando uma
negociação com drogas envolvendo traficantes mexicanos culmina num desesperador
tiroteio com a polícia, e de lá galga para uma tentativa inusitada de Bradley
em acabar com o derramamento de sangue, podemos sentir a agonia de quando tudo
se desmorona.
De fato, é o que ocorre: Bradley vai preso e a
previsão de cinco a quatro anos de detenção resulta numa pessimista sentença de
sete anos.
Contudo, no cinema de Zahler, a desgraça nunca
é tanta que uma boa guinada de roteiro não a deixe ainda mais contundente:
Lauren é então capturada dentro de sua casa, e a notícia que chega à Bradley na
prisão é que os responsáveis são os vingativos traficantes mexicanos que ele
prejudicou. Para saldar a dívida e impedir que matem sua esposa e a sua filha
que ainda nem nasceu, ele precisa encontrar um meio de ser transferido da
prisão de segurança mínima em que está para um presídio de segurança máxima
chamada Red Leaf, onde um detento trancafiado no notório pavilhão 99 deve
morrer pelas suas próprias mãos.
Contornando visíveis
restrições orçamentárias com decisões pertinentes de roteiro, este trabalho de
Zahler surpreende pelo desembaraço com que registra cenas sangrentas e de
violência extrema –o quê levou Zahler a ser muito comparado com Quentin
Tarantino já em “Bone Tomahawk” –que explodem numa intensidade quase inacreditável
nos quinze minutos finais, e pela atuação brutal e assustadora de Vince Vaughn.
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