quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Confronto No Pavilhão 99

O faroeste “Bone Tomahawk” –no Brasil, “Rastro de Maldade” –já era um senhor cartão de apresentação para o diretor e roteirista S. Craig Zahler; violento, cuidadosamente dedicado à construção de sua premissa, primoroso na atenção ao desempenho de seu elenco e criterioso na composição de suas imagens –que não raro desembocavam numa violência gráfica poucas vezes mostrada na tela –seu trabalho trazia diversas características de cult-movie.
Isso novamente vem a se repetir neste seu projeto seguinte, onde Zahler aborda com seu estilo forte e peculiar um novo gênero, o drama de prisão.
Ainda que o filme demore bastante para chegar até lá.
Vindo daquela rara categoria de diretores que depõem um tempo considerável de filme na construção de seu enredo, Zahler –tal e qual, Michael Cimino em seu “O Franco Atirador”, por exemplo –ocupa toda a primeira hora para estabelecer as motivações bem fundamentadas de seu protagonista.
Normalmente associado à comédias como “Penetras Bons de Bico” ou “Separados Pelo Casamento”, o ator Vince Vaughn, com sua compleição agigantada e sua expressão impassível, faz jus ao personagem principal, Bradley Thomas, um cara suburbano, grandalhão, propenso à violência e essencialmente desenvolto com ela (ninguém o supera numa luta), mas dono de princípios muito sólidos.
Casado com Lauren (Jennifer Carpenter, de “O Exorcismo de Emily Rose”), ele decide, após superar uma injusta demissão e um caso extraconjugal da esposa, ceder às propostas do amigo traficante Gil (Marc Blucas) e tornar-se uma espécie de capanga de confiança a fim de obter para sua mulher –que está grávida –uma qualidade de vida que o trabalho honesto não proporcionou. Como é de praxe numa circunstância em que um personagem adere à criminalidade, logo algo dará terrivelmente errado; a diferença são os alicerces dramáticos construídos com parcimônia e zelo pelo diretor –quando uma negociação com drogas envolvendo traficantes mexicanos culmina num desesperador tiroteio com a polícia, e de lá galga para uma tentativa inusitada de Bradley em acabar com o derramamento de sangue, podemos sentir a agonia de quando tudo se desmorona.
De fato, é o que ocorre: Bradley vai preso e a previsão de cinco a quatro anos de detenção resulta numa pessimista sentença de sete anos.
Contudo, no cinema de Zahler, a desgraça nunca é tanta que uma boa guinada de roteiro não a deixe ainda mais contundente: Lauren é então capturada dentro de sua casa, e a notícia que chega à Bradley na prisão é que os responsáveis são os vingativos traficantes mexicanos que ele prejudicou. Para saldar a dívida e impedir que matem sua esposa e a sua filha que ainda nem nasceu, ele precisa encontrar um meio de ser transferido da prisão de segurança mínima em que está para um presídio de segurança máxima chamada Red Leaf, onde um detento trancafiado no notório pavilhão 99 deve morrer pelas suas próprias mãos.
Contornando visíveis restrições orçamentárias com decisões pertinentes de roteiro, este trabalho de Zahler surpreende pelo desembaraço com que registra cenas sangrentas e de violência extrema –o quê levou Zahler a ser muito comparado com Quentin Tarantino já em “Bone Tomahawk” –que explodem numa intensidade quase inacreditável nos quinze minutos finais, e pela atuação brutal e assustadora de Vince Vaughn.

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