quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Lendas da Paixão

Grande sucesso da década de 1990, menos por seu valor cinematográfico e mais por seu visual romantizado e acachapante (o que inevitavelmente levou o diretor de fotografia John Toll a ganhar o Oscar da categoria em 1995), “Lendas da Paixão” se principia numa cena onde um urso encurrala, numa caçada que deu errado em meio às floresta do estado de Montana, o menino Tristan. O urso o machuca, mas ele, em sua ferocidade de bravo herdeiro de homens da montanha, o fere também.
Pula então para alguns anos a frente, quando a trama começa de fato.
No início do século XX, às vésperas da Primeira Guerra Mundial, a família de Tristan (Brad Pitt, no papel responsável por grande parte do seu apelo como galã nos anos 1990) –que consiste dele, seus dois irmãos, o mais novo Samuel (Henry Thomas, o garotinho de “E.T. OExtraterrestre”) e o mais velho Alfred (Aidan Quinn), e seu velho pai (Anthony Hopkins) –vem a conhecer a delicada noiva do caçula, Susannah (Julia Ormond).
Nesse primeiro entrecho do filme já se estabelece a estrutura para o quê virá: Embora comprometida com Samuel, é por Tristan que ela nitidamente se mostra balançada, sinalizando aí um triângulo amoroso à vista. É também nesse entrecho que se nota a transfiguração promovida pelo trabalho do diretor Edward Zwick (do esplêndido “Tempo de Glória”) sobre o material que adaptava para o cinema: O livro aclamado de Jim Harrison que relatava uma jornada de coragem, paixão e laços de sangue.
Na tradição de uma literatura norte-americana calcada em honra e fibra moral, a obra de Harrison é reconhecida como um exemplar rústico de uma trama sobre homens, voltada à firmeza de caráter, às demonstrações de força e de bravura. Algo notadamente masculino.
O quê Zwick fez –difícil dizer se proposital ou não –foi inverter a equação: Na presença irretocavelmente fotogênica de Brad Pitt, na ênfase dos desenlaces românticos e novelescos da trama e no predominante visual de cartão postal, “Lendas da Paixão” se converteu num típico filme romântico para fazer o público feminino suspirar.
E as guinadas exageradamente drásticas e dramáticas que a trama toma dali por diante só potencializam essa certeza: Quando por fim eclode a guerra, Tristan vai com Samuel para o front de batalha, disposto a protegê-lo e honrar a promessa que fizera a sua futura cunhada. No entanto, Samuel termina sendo morto em combate –numa cena que oferece a Zwick a chance de mostrar a ampla experiência com cenas de batalha adquirida em sua obra anterior.
De volta para casa, as circunstâncias levam Tristan a se envolver com a viúva do próprio irmão. Todavia, ele não fica em paz por muito tempo: Durante a caçada a um urso, Tristan tem um lampejo do mesmo episódio em que foi ferido quando criança (aquele que iniciou o filme...) e isso o leva a entrar em contato com seu lado mais selvagem e destrutivo –ou algo assim...
Ele abandona Susannah, deixando caminho livre para Alfred fazer o mesmo que seus irmãos fizeram antes (!). Ainda haverão outros desafios a serem enfrentados pela família de Tristan, além das complicações íntimas e pessoais dessas relações.
Conforme vai avançando na evolução manhosa e folhetinesca de sua premissa, o trabalho de Zwick perde cada vez mais a aura de filme épico inicialmente pretendida e sugerida para ficar com cara de produção da sessão da tarde (o que, com o tempo, ele passou a ser de fato!).
Do modo como está e como ficou, ele agrada mais facilmente às mulheres devido ao seu romance desmesurado que busca centralizar, durante a maior parte do enredo, a personagem de Julia Ormond, ao visual paisagístico, e à sempre ressaltada presença de Brad Pitt.

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