Grande sucesso da década de 1990, menos por seu
valor cinematográfico e mais por seu visual romantizado e acachapante (o que
inevitavelmente levou o diretor de fotografia John Toll a ganhar o Oscar da
categoria em 1995), “Lendas da Paixão” se principia numa cena onde um urso
encurrala, numa caçada que deu errado em meio às floresta do estado de Montana,
o menino Tristan. O urso o machuca, mas ele, em sua ferocidade de bravo
herdeiro de homens da montanha, o fere também.
Pula então para alguns anos a frente, quando a
trama começa de fato.
No início do século XX, às vésperas da Primeira
Guerra Mundial, a família de Tristan (Brad Pitt, no papel responsável por
grande parte do seu apelo como galã nos anos 1990) –que consiste dele, seus
dois irmãos, o mais novo Samuel (Henry Thomas, o garotinho de “E.T. OExtraterrestre”) e o mais velho Alfred (Aidan Quinn), e seu velho pai (Anthony
Hopkins) –vem a conhecer a delicada noiva do caçula, Susannah (Julia Ormond).
Nesse primeiro entrecho do filme já se estabelece
a estrutura para o quê virá: Embora comprometida com Samuel, é por Tristan que
ela nitidamente se mostra balançada, sinalizando aí um triângulo amoroso à
vista. É também nesse entrecho que se nota a transfiguração promovida pelo
trabalho do diretor Edward Zwick (do esplêndido “Tempo de Glória”) sobre o
material que adaptava para o cinema: O livro aclamado de Jim Harrison que
relatava uma jornada de coragem, paixão e laços de sangue.
Na tradição de uma literatura norte-americana
calcada em honra e fibra moral, a obra de Harrison é reconhecida como um
exemplar rústico de uma trama sobre homens, voltada à firmeza de caráter, às
demonstrações de força e de bravura. Algo notadamente masculino.
O quê Zwick fez –difícil dizer se proposital ou
não –foi inverter a equação: Na presença irretocavelmente fotogênica de Brad
Pitt, na ênfase dos desenlaces românticos e novelescos da trama e no
predominante visual de cartão postal, “Lendas da Paixão” se converteu num
típico filme romântico para fazer o público feminino suspirar.
E as guinadas exageradamente drásticas e
dramáticas que a trama toma dali por diante só potencializam essa certeza: Quando
por fim eclode a guerra, Tristan vai com Samuel para o front de batalha,
disposto a protegê-lo e honrar a promessa que fizera a sua futura cunhada. No
entanto, Samuel termina sendo morto em combate –numa cena que oferece a Zwick a
chance de mostrar a ampla experiência com cenas de batalha adquirida em sua
obra anterior.
De volta para casa, as circunstâncias levam
Tristan a se envolver com a viúva do próprio irmão. Todavia, ele não fica em
paz por muito tempo: Durante a caçada a um urso, Tristan tem um lampejo do
mesmo episódio em que foi ferido quando criança (aquele que iniciou o filme...)
e isso o leva a entrar em contato com seu lado mais selvagem e destrutivo –ou
algo assim...
Ele abandona Susannah, deixando caminho livre
para Alfred fazer o mesmo que seus irmãos fizeram antes (!). Ainda haverão
outros desafios a serem enfrentados pela família de Tristan, além das complicações
íntimas e pessoais dessas relações.
Conforme vai avançando na evolução manhosa e
folhetinesca de sua premissa, o trabalho de Zwick perde cada vez mais a aura de
filme épico inicialmente pretendida e sugerida para ficar com cara de produção
da sessão da tarde (o que, com o tempo, ele passou a ser de fato!).
Do modo como está e como
ficou, ele agrada mais facilmente às mulheres devido ao seu romance desmesurado
que busca centralizar, durante a maior parte do enredo, a personagem de Julia
Ormond, ao visual paisagístico, e à sempre ressaltada presença de Brad Pitt.
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