Ao escrever este roteiro em colaboração com o
diretor Mike Cahill (de “O Rei da Califórnia”), a atriz Britt Marling reservou
para si o papel da protagonista cuidadosamente construída em torno de dilemas
de ordem dramática que os atores e atrizes tanto apreciam vivenciar.
Ela é Rhoda, uma jovem inteligente e apaixonada
por astronomia –características que devem dizer mais à atriz do que à
personagem visto que isso é sugerido no início e, apesar de tudo, não mais
explorado ao longo do filme.
O filme mal começa e já trata de colocar Rhoda
como o pivô de uma tragédia que definirá a narrativa: Voltando alcoolizada de
uma festa, ela é surpreendida por uma notícia no rádio que relata a descoberta
de um novo planeta escondido atrás do sol, um planeta exatamente igual à Terra
–e, por isso mesmo chamado de “Terra 2”. Distraída com a visão daquele
intrigante ponto azul no céu, Rhoda colide seu carro com o de uma família,
matando a mãe (que estava grávida), o filho pequeno e deixando em coma o pai.
Conseqüentemente, ela passa os próximos quatro anos em detenção até ganhar a
liberdade, e descobrir, do lado de fora, que esses percalços lhe custaram seus
sonhos de vida: Não mais uma estudante, ela agora tem de trabalhar como
faxineira de escola.
Entretanto, sua maior perturbação continua a
ser o erro que levou àquele acidente. Ela procura pelo sobrevivente, que nesse
ínterim saiu do coma, John Burroughs (William Mapother, de “Entre Quatro
Paredes” e da série “Lost”) e tenta aproximar-se inicialmente na intenção de
pedir desculpas, mas, quando a coragem lhe falta, termina oferecendo-se para
trabalhar como uma espécie de diarista.
Rhoda passa a conviver com ele, e se dá conta
das deprimentes circunstâncias de sua vida desde o acidente. Ao mesmo tempo, a
NASA planeja o envio de uma nave tripulada à Terra 2 –que, ao que todos os
indícios surpreendentes parecem apontar, é uma espécie de reflexo sincronizado
do nosso mundo, contendo as mesmas pessoas (!) –e Rhoda, até pela oportunidade
de começar uma vida nova, é uma das candidatas a partir para esse outro
planeta.
Contudo, ela e John acabam se envolvendo, sem
que ela tenha qualquer chance de contar a ele toda a verdade. É a chegada desse
instante iminente e inevitável de revelação –e da possível e provável reação de
John a ele –que vai movendo o conflito e a tensão da narrativa até o seu final
de uma sacada, verdade seja dita, até bem solucionada. Embora parte do público
possa se irritar com aquela, digamos, decisão abnegada do filme e da
protagonista.
Um detalhe problemático e
até certo ponto bastante incontornável de “A Outra Terra” é, portanto, que a
trama paralela a respeito da Terra 2 (tão mais intrigante e instigante do que o
enlace trágico e, no fim das contas, convencional, que envolve Rhoda e John) só
adquire relevância de fato –e afeta determinantemente a premissa –quando
chegamos ao final; até lá, ela parece uma mera justificativa para diferenciar
este drama independente de tantos outros.
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