quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Forever - Juntos Para Sempre

Durante as cinco décadas em que filmou intensamente, o diretor Walter Hugo Khouri –a exemplo de outros grandes cineastas autores –dedicou sua filmografia à discorrer sobre uma mesma temática: As profundezas insondáveis do vazio existencial e seus efeitos colaterais no comportamento sexual.
Desse impulso vieram obras seminais para o cinema nacional como “Noite Vazia” e os diversos exemplares da chamada “Fase Marcelo”, à qual este “Forever” vem a pertencer.
Falado em inglês e com Ben Gazarra no papel do protagonista Marcelo (incluindo seu nome numa lista de interpretes que vai de Tarcisio Meira à Roberto Maya), o filme, mesmo ostentando tais concessões que visavam na época o mercado internacional, mantém estreitos laços com o cinema de Khouri.
Lá estão os dilemas impronunciáveis e a angústia espiritual que arde dentro do personagem principal sem que ele entenda por completo a razão, lá estão as mulheres belíssimas (aqui, Vera Fischer, Corinne Clery, a italiana Eva Grimaldi e uma ainda estreante Ana Paula Arósio) e, não raro, entregues a delírios fantasiosos cuja natureza freudiana (e erótica) pode chocar alguns expectadores, e acima de tudo, lá está a admiração pela cidade de São Paulo, traduzida em imagens fotografadas com um requinte e uma elegância que, no que diz respeito ao cinema nacional, poucos eram capazes de igualar Khouri.
A emular grandes obras como “Crepúsculo dos Deuses” ou quem sabe o próprio “Cidadão Kane”, a primeira cena já deixa claro que Marcelo Rondi (Gazarra), o protagonista, está morto. Deitado na cama de seu quarto, fulminado por um ataque cardíaco durante o que parece ter sido uma noite de amor.
Mas, quem seria a mulher com quem Marcelo esteve em seus momentos finais? Aquela que, no ápice da paixão, por fim o levou à morte?
Na esteira desse mistério, a filha de Marcelo, Berenice (vivida por Eva Grimaldi, num papel que, assim como Marcelo, é recorrente na obra de Khouri) descobre ser a única a de fato lamentar por sua partida –mesmo as várias amantes dele que vão se revelando através dos flashbacks nada significaram para ele, como ele também nada significou para elas.
A falta de um vínculo real que transformasse essas relações em relacionamentos é um dos elementos essenciais vislumbrados pela frieza da narrativa de Khouri, assim como o Complexo de Electra até então reprimido que Berenice nutriu, desde muito nova, por Marcelo e que contribuirá para uma das guinadas do filme –e que, aos mais habituados com os tópicos da filmografia de Khouri, não representará uma surpresa (nem um espanto) tão grande assim.

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