Durante as cinco décadas em que filmou
intensamente, o diretor Walter Hugo Khouri –a exemplo de outros grandes
cineastas autores –dedicou sua filmografia à discorrer sobre uma mesma
temática: As profundezas insondáveis do vazio existencial e seus efeitos
colaterais no comportamento sexual.
Desse impulso vieram obras seminais para o
cinema nacional como “Noite Vazia” e os diversos exemplares da chamada “Fase
Marcelo”, à qual este “Forever” vem a pertencer.
Falado em inglês e com Ben Gazarra no papel do
protagonista Marcelo (incluindo seu nome numa lista de interpretes que vai de
Tarcisio Meira à Roberto Maya), o filme, mesmo ostentando tais concessões que
visavam na época o mercado internacional, mantém estreitos laços com o cinema de
Khouri.
Lá estão os dilemas impronunciáveis e a angústia
espiritual que arde dentro do personagem principal sem que ele entenda por
completo a razão, lá estão as mulheres belíssimas (aqui, Vera Fischer, Corinne
Clery, a italiana Eva Grimaldi e uma ainda estreante Ana Paula Arósio) e, não
raro, entregues a delírios fantasiosos cuja natureza freudiana (e erótica) pode
chocar alguns expectadores, e acima de tudo, lá está a admiração pela cidade de
São Paulo, traduzida em imagens fotografadas com um requinte e uma elegância
que, no que diz respeito ao cinema nacional, poucos eram capazes de igualar
Khouri.
A emular grandes obras como “Crepúsculo dos
Deuses” ou quem sabe o próprio “Cidadão Kane”, a primeira cena já deixa claro
que Marcelo Rondi (Gazarra), o protagonista, está morto. Deitado na cama de seu
quarto, fulminado por um ataque cardíaco durante o que parece ter sido uma
noite de amor.
Mas, quem seria a mulher com quem Marcelo
esteve em seus momentos finais? Aquela que, no ápice da paixão, por fim o levou
à morte?
Na esteira desse mistério, a filha de Marcelo,
Berenice (vivida por Eva Grimaldi, num papel que, assim como Marcelo, é
recorrente na obra de Khouri) descobre ser a única a de fato lamentar por sua
partida –mesmo as várias amantes dele que vão se revelando através dos
flashbacks nada significaram para ele, como ele também nada significou para
elas.
A falta de um vínculo real
que transformasse essas relações em relacionamentos é um dos elementos
essenciais vislumbrados pela frieza da narrativa de Khouri, assim como o
Complexo de Electra até então reprimido que Berenice nutriu, desde muito nova,
por Marcelo e que contribuirá para uma das guinadas do filme –e que, aos mais
habituados com os tópicos da filmografia de Khouri, não representará uma
surpresa (nem um espanto) tão grande assim.
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