quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A Lagoa Azul

Certamente um dos clássicos da era da “sessão da tarde”, este filme dirigido por Randal Kleiser é (não obstante o fato de existirem outras versões anteriores e posteriores a ele da obra de Henry de Vere Stacpoole, e de haverem até outras refilmagens) um clássico na opinião de toda uma geração.
As razões para esse reconhecimento podem ser hoje fortuitas aos expectadores mais jovens e até mesmo àqueles que nunca enxergaram valores maiores na obra, levantando a pergunta se tais valores de fato existem.
Entretanto, “A Lagoa Azul” é um dos mais lembrados filmes oitentista no que toca ao seu, digamos, romantismo e certamente à natureza sexual de sua história de amor –e há, ainda o elemento transgressivo para dar algum tempero, já que Brooke Shields tinha apenas dezessete anos quando protagonizou este filme –embora, ela própria tenha participado, anos antes, do ainda mais ousado “Pretty Baby-Menina Bonita”, de Louis Malle, que abordava a prostituição e a pedofilia!
Náufragos numa ilha deserta –e logo deixados sozinhos quando o único adulto que os cuidava, o velho e beberrão Paddy (Leo McKern), vem a falecer –duas crianças, Emmeline e Richard, crescem vivendo completamente isolados naquele lugar conforme os anos vão se passando.
Quando eles chegam até a idade púbere (e adquirem assim as formas de Brooke Shields e Christopher Atkins), o florescer da sexualidade de ambos começa a confundi-los, levando a atritos ocasionais e rompantes de paixão.
Título essencial para os românticos de plantão, “A Lagoa Azul” se mantém perene na memória de muitos apreciadores provavelmente devido ao seu desfecho: Após todo um filme dedicado às idas e vindas incoerentes de seu amor juvenil, Emmeline e Richard têm –sem saber muito bem como –um filho e com ele sentem-se a vontade para viver suas vidas naquela ilha para sempre; eles chegam até a ignorar um navio que passa por ali nas proximidades, após tantos anos. Numa última seqüência, capturada pela narrativa como algo corriqueiro, a família adentra as imediações do mar com uma canoa. Eles perdem seus remos, com os quais podem retornar à ilha e, enquanto esperam, a criança ingere uma das ‘frutinhas para dormir’ que ali estava (o velho havia lhes instruído, quando crianças a nunca comer daquelas frutinhas). A criança dorme e, julgando que possa nunca acordar, Emmeline e Richard separam daquelas frutinhas para eles comerem também.
Mais tarde, um navio os encontra. Estão todos os três inconscientes, dormindo na canoa. Os tripulantes do navio tomam ali a decisão de levá-los.
E “A Lagoa Azul” termina assim, deixando o expectador com inúmeras dúvidas na cabeça: Eles acordaram do efeito das frutinhas ou morreram de fato? E se acordaram qual foi sua reação ao serem levados de volta para a civilização? Eles se adaptaram? Eles continuaram juntos?
Ao negar quaisquer umas dessas respostas ao público –menos por astúcia narrativa e certamente mais por pura ingenuidade –o filme garantiu uma sobrevida na memória afetiva dos espectadores que persistiu ao longo das décadas e sobreviveu à imitações, paródias, refilmagens e tentativas de continuação.

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