Certamente um dos clássicos da era da “sessão
da tarde”, este filme dirigido por Randal Kleiser é (não obstante o fato de
existirem outras versões anteriores e posteriores a ele da obra de Henry de
Vere Stacpoole, e de haverem até outras refilmagens) um clássico na opinião de
toda uma geração.
As razões para esse reconhecimento podem ser
hoje fortuitas aos expectadores mais jovens e até mesmo àqueles que nunca
enxergaram valores maiores na obra, levantando a pergunta se tais valores de
fato existem.
Entretanto, “A Lagoa Azul” é um dos mais
lembrados filmes oitentista no que toca ao seu, digamos, romantismo e
certamente à natureza sexual de sua história de amor –e há, ainda o elemento
transgressivo para dar algum tempero, já que Brooke Shields tinha apenas
dezessete anos quando protagonizou este filme –embora, ela própria tenha
participado, anos antes, do ainda mais ousado “Pretty Baby-Menina Bonita”, de
Louis Malle, que abordava a prostituição e a pedofilia!
Náufragos numa ilha deserta –e logo deixados
sozinhos quando o único adulto que os cuidava, o velho e beberrão Paddy (Leo
McKern), vem a falecer –duas crianças, Emmeline e Richard, crescem vivendo
completamente isolados naquele lugar conforme os anos vão se passando.
Quando eles chegam até a idade púbere (e
adquirem assim as formas de Brooke Shields e Christopher Atkins), o florescer
da sexualidade de ambos começa a confundi-los, levando a atritos ocasionais e
rompantes de paixão.
Título essencial para os românticos de plantão,
“A Lagoa Azul” se mantém perene na memória de muitos apreciadores provavelmente
devido ao seu desfecho: Após todo um filme dedicado às idas e vindas incoerentes
de seu amor juvenil, Emmeline e Richard têm –sem saber muito bem como –um filho
e com ele sentem-se a vontade para viver suas vidas naquela ilha para sempre;
eles chegam até a ignorar um navio que passa por ali nas proximidades, após
tantos anos. Numa última seqüência, capturada pela narrativa como algo
corriqueiro, a família adentra as imediações do mar com uma canoa. Eles perdem
seus remos, com os quais podem retornar à ilha e, enquanto esperam, a criança
ingere uma das ‘frutinhas para dormir’ que ali estava (o velho havia lhes
instruído, quando crianças a nunca comer daquelas frutinhas). A criança dorme
e, julgando que possa nunca acordar, Emmeline e Richard separam daquelas
frutinhas para eles comerem também.
Mais tarde, um navio os encontra. Estão todos
os três inconscientes, dormindo na canoa. Os tripulantes do navio tomam ali a
decisão de levá-los.
E “A Lagoa Azul” termina assim, deixando o
expectador com inúmeras dúvidas na cabeça: Eles acordaram do efeito das
frutinhas ou morreram de fato? E se acordaram qual foi sua reação ao serem
levados de volta para a civilização? Eles se adaptaram? Eles continuaram
juntos?
Ao negar quaisquer umas dessas
respostas ao público –menos por astúcia narrativa e certamente mais por pura
ingenuidade –o filme garantiu uma sobrevida na memória afetiva dos espectadores
que persistiu ao longo das décadas e sobreviveu à imitações, paródias,
refilmagens e tentativas de continuação.
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