Na primeira cena de “A Negociação”, o
personagem de Richard Gere discorre com austeridade sobre como sua empresa
atravessou incólume a crise do sistema econômico e imobiliário de 2008. O filme
de Nicholas Jarecki já começa assim com um sabor pertinente, agregando ao
enredo questões muito atuais.
Robert Miller (Gere) tem, afinal, muito a
perder: Sua reputação, seus negócios –em estágio de frágil negociata que podem
influenciar no bem-estar de sua família –e até mesmo uma relação de respeito
mútuo com seus entes queridos. Incluindo aí a filha Brooke (Britt Marling) e a
esposa Ellen, de comportamento normalmente alheio (Suzan Sarandon).
Demandando um tempo considerável para ajustar
esses elementos da narrativa, e deles fazer algo bem claro ao expectador, o
filme de Jarecki se torna então aquilo que ele queria ser: Um suspense. Eis que
Robert tem também –além das complicações de sobra –uma amante, a artista
plástica Julie, vivida pela modelo francesa Laetitia Casta.
É ao lado dela que Robert está quando
acidentalmente capota o carro numa estrada deserta a noite. E constata, logo em
seguida, que o impacto levou Julie à morte.
Ele foge do local com a ajuda de um jovem
conhecido (Nate Parker, de “O Nascimento de Uma Nação”), buscando apagar, na
medida do possível, os indícios que o relacionam àquela tragédia e, nos dias
que se seguem, passará alguns apuros tentando se esquivar do encalço insistente
e obstinado do detetive Bryer (Tim Roth), um proletário rancoroso (ou assim
retratado no filme) disposto a fazer o impossível para obter uma condenação do
ricaço que aconteceu de ficar em sua mira.
O aguçado tino de negócios de Robert será
fundamental para que ele consiga se desvencilhar com astúcia das circunstâncias
caudalosas que o incriminam.
Ao lado de “Chicago” e
“Infidelidade”, este filme é uma das produções que, nas últimas décadas,
beneficiou-se de uma súbita iluminação da parte do ator Richard Gere, em
empregar os mesmo maneirismos de sempre –e que fizeram dele um astro mais pelo
charme desenvolto do que pela versatilidade interpretativa –para moldar um
personagem crível arremessado numa situação completamente distinta das quais
nos acostumamos a vê-lo. Nesse sentido, esta é uma de suas atuações mais ricas
em muitos anos.
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